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Artigos

  • O barco e o sol

    Folha de S. Paulo (SP), em 10/12/2006

    RIO DE JANEIRO - Alguns leitores reclamam do cronista que usa o nobre espaço de um jornal para textos que nada têm a ver com a realidade e com o momento. Falando francamente, eu também me estranho e por mais que me estranhe, fico na minha.Não tenho saco para acompanhar com argúcia e interesse pessoal os fatos e fastos da política nacional, da nossa economia e da situação internacional. De vez em quando abordo um tema relativo a esses departamentos, que afinal, de certa forma fazem parte do meu cotidiano.O atentado ao WTC me espantou, a invasão do Iraque me irritou, o Brasil na Copa do Mundo me decepcionou. Foram acontecimentos abordados à exaustão por todos os jornais e jornalistas, cada qual com sua visão particular, inclusive a minha.Para dar exemplos: não tenho qualquer interesse em saber quem vai ser ministro disso ou daquilo, não torço por nenhum candidato e nenhum partido.Sou minimamente patriota para admitir que torço compulsoriamente pelo Brasil, pela paz universal, mas de tanto quebrar a cara, não o faço com arroubo e persistência.Ontem pela manhã vi um barco solitário na Lagoa. Os remos encharcados refletiam o sol da manhã. Um espetáculo bonito em sua banalidade, logo me deu vontade de escrever sobre barcos de remos encharcados de água e de sol.

  • Gastos e ganhos

    Jornal do Commercio (RJ), em 04/12/2006

    Leio nos jornais que o governo planeja diminuir a verba destinada à Saúde. Concretizada a medida, serão R$ 2 bilhões a menos no ano que vem. Da verba que sobrar, serão descontados os recursos destinados ao Bolsa Família, que será considerado investimento na área da saúde.

  • Os times de Lula

    Folha de S. Paulo (SP), em 29/11/2006

    RIO DE JANEIRO - Os entendidos garantem que o tempo mais feliz dos políticos que chegam a um cargo executivo é o período que vai da eleição aos primeiros dias de governo. Acredito que o Lula esteja vivendo este oásis de forma até dupla, uma vez que termina um mandato e está para começar outro.

  • Opinião: O papa à beira da guerra das religiões

    Jornal do Brasil (RJ), em 29/11/2006

    O repúdio popular entrevisto à visita do papa à Turquia põe em causa o temor expresso pela Comissão de Alto Nível das Nações Unidas, recém-reunida em Istambul, quanto à irrupção em nossos dias de uma crescente "guerra de religiões". É conflito brotado do inconsciente coletivo, em que explode no mundo islâmico uma percepção tardia dos limites a que chegou a dominação ocidental. E tal até uma verdadeira expropriação de sua identidade pela modernização e controle tecnológico e econômico da sua vida coletiva.

  • A necessidade do homem

    Folha de S.Paulo (SP), em 28/11/2006

    RIO DE JANEIRO - Antigamente, na geração anterior à minha, era moda cultivada entre as gentes: o indagar-se. No encontro de intelectuais com o papa, em 1981, aqui no Rio, Alceu Amoroso Lima contou que, em Veneza, em 1913, sentado no bar do hotel Danieli, teve uma dessas crises e por pouco não ia cometendo suicídio.

  • O mistério dos Orixás

    Tribuna da Imprensa (RJ), em 28/11/2006

    O estudo e a análise das religiões que nos vieram da África dispõem hoje de uma vasta biblioteca. Desde que, em 1905, Nina Rodrigues publicou seu livro "Africanos no Brasil", o assunto passou a ser discutido de vários ângulos, não só em livros de pessoas que freqüentam sessões de cultos afro-brasileiros, mas também no meio acadêmico, inclusive através de estudos de idiomas - como o iorubá, o grunsi, os da região banto, entre outros.

  • De nomes e desditas

    Jornal do Commercio (RJ), em 27/11/2006

    Ludovico dos Santos viveu, até aos 30 anos, sem dar importância ao nome. Nem ao azar: tudo de ruim lhe acontecia, sufocações na primeira infância, erisipela na mocidade, mau hálito permanente, falta de dinheiro crônica, feiúra quase absoluta e absoluta burrice para aprender qualquer coisa, com exceção da nobre arte de sobreviver a tantas e tamanhas dificuldades. Aos 31 anos, descobriu que o nome (Ludovico) talvez fosse o culpado de tudo. E decidiu mudá-lo, avisando a seus inimigos (não tinha amigos) e credores (mas tinha dívidas) que, a partir de tal dia e tal hora, ele mudaria de nome e só atenderia aos que o chamassem de Castelar. Ninguém reclamou. Mas por que não adotava nome mais simples como Jorge, ou para ficar na letra "ele", Luiz? Uma semana depois de ter adotado o nome de Castelar, ele arranjou uma namorada que gostou exatamente de seu nome. Era uma professora primária, passada na vida e nas amarguras, fora casada com um despachante aduaneiro, abortara três vezes, parira outras tantas, e aos 36 anos começara a sofrer de furor uterino. Castelar apaixonou-se por ela e vice-versa. Tiveram um filho que justo se chamou Vice-Versa. Castelar chegou a prosperar na profissão, pois não tinha profissão alguma e com a mulher trabalhando por ele sobrava-lhe mais tempo para nada fazer. Um dia, Castelar encontrou a mulher com um cara chamado Ludovico. Usava argolas nas orelhas, pintava o corpo com uma resina vermelha, era cabeludo e tocava flauta. Ela se apaixonou por Ludovico - e Castelar descobriu que o culpado de suas desditas não era o Ludovico, nome que portara durante tantos anos. Decidiu mudar de nome outra vez, mas já se habituara com o Castelar. Em dúvida, ficou com os dois, ou seja, com o Castelar e o Ludovico.

  • O sorriso da sociedade

    Folha de S.Paulo (SP), em 26/11/2006

    RIO DE JANEIRO - Em 19 de junho de 1915, no saguão do "Jornal do Commercio", na esquina mais nobre do Rio de Janeiro (rua do Ouvidor com avenida Rio Branco), o jornalista Gilberto Amado matou o poeta Annibal Theophilo.

  • Espírito inquieto marca obra

    Folha de S. Paulo (SP), em 25/11/2006

    No dia seguinte ao 31 de março de 1964, dirigi-me à Prefeitura de Porto Alegre. Como muitos jovens, estava abalado com a notícia do golpe; e, como muitos, pensava em resistir, e achei que o pessoal estaria se reunindo na prefeitura.

  • Opinião: O jogo dos sete erros

    Jornal do Brasil (RJ), em 24/11/2006

    O Oriente Médio toma uma direção nunca esperada por nenhum dos planejadores da Guerra do Iraque. Até hoje ninguém sabe exatamente as motivações que levaram ao conflito. Bush justificou-as como a necessidade de uma guerra contra o terrorismo, a existência de armas de destruição em massa, químicas, atômicas ou seja lá o que fosse. Essa versão não resistiu dois meses e restou a de que era mesmo uma birra de família porque - expressão do presidente dos EUA - "Saddam quis matar papai". A doutrina Rumsfeld da guerra preventiva também ruiu por terra porque, se a versão da existência das armas não era verdadeira, a tal prevenção também não era.

  • Ocidente, terrorismo e diferença

    Jornal do Commercio (RJ), em 24/11/2006

    Para onde vai a visão americana depois da vitória democrática, diante da declaração dos experts militares de que será, pelo menos, de dez anos a permanência das tropas no Iraque? E como reagirá Washington à proposta já da Europa mediterrânea, de juntarem-se a França, a Espanha e a Itália, por forçar uma solução para o impasse do Oriente Médio, independentemente do que pense o Salão Oval? Ou, sobretudo, e frente às fendas abertas à hegemonia, pela derrubada de Rumsfeld, o que se pode esperar da passagem do Irã à ofensiva, numa concertação internacional, convidando a Síria, o Iraque - e, especialmente, a Turquia - para a estabilização da área?

  • “Sérgio Buarque de Hollanda teve de explicar, incontáveis vezes, que cordialidade não é sinônimo de cortesia, de gentileza, de boa educação”

    Correio Braziliense (DF), em 24/11/2006

    Há 70 anos era publicada, no Rio de Janeiro, uma obra que marcaria de forma indelével a cultura brasileira. Trata-se de Raízes do Brasil. O autor, o intelectual, historiador e antropólogo Sérgio Buarque de Hollanda, é por muitos conhecido como o pai do Chico, o que mostra o poder do genoma; mas ele é, sobretudo, um lúcido intérprete da realidade brasileira.