
Voltando a Nasrudin
[2]Não importa fingir-se de tolo
Não importa fingir-se de tolo
Existe o convencimento de que o Brasil é o maior produtor mundial de livros didáticos, consumindo milhares de toneladas de papel, que é o insumo básico dessa indústria. Se fizermos um exercício futurológico, a primeira pergunta que se impõe é a seguinte: com o avanço científico e tecnológico, o que poderá mudar, nessa importante mídia pedagógica? Os livros, no formato tradicional, desaparecerão?
Outubro é um mês de muitas comemorações. Assim, temos o Dia das Crianças, a data da “descoberta” da América (estas aspas lembram o fato de que se tratou de descoberta para os europeus, não para os índios que aqui viviam), o Dia do Médico, e o aniversário da Revolução Russa de 1917.
A Receita Federal decidiu apertar o cerco contra fraudes em deduções do Imposto de Renda (IR) praticadas sobretudo pela classe média. "Para ampliar o limite de dedução com saúde, educação e dependentes, são inseridos filhos fictícios, tornando-se comuns declarações que mencionam filhos gêmeos e trigêmeos", informa relatório de inteligência do fisco ao qual a Folha teve acesso.
Aqui na ilha, depois do advento da televisão e das transmissões por satélite, acompanhamos de perto todos os eventos esportivos em que o Brasil se envolve, mantendo nossa intransigente tradição patriótica. Bem verdade que, de início, ocorreu certa estranheza quanto a alguns esportes a que não estávamos afeitos. Nos primeiros jogos de vôlei aqui exibidos, houve aqueles que comemoravam quando o Brasil metia uma bola na rede, na convicção de que, como no futebol, vôlei é bola na rede. A marcha, para citar apenas um outro exemplo, é desdenhosamente designada por muitos como “o remelexo” e a crença geral é de que o brasileiro não entra nessa modalidade porque pega muito mal aparecer rebolando na televisão para todo mundo ver, inclusive ou principalmente a sogra.
Ninguém tem a verdadeira noção da importância de possuir um cartão de crédito. Ainda mais se for Ouro. É que pessoa alguma se dá ao luxo de ler a documentação que o acompanha. Em primeiro lugar você é distinguido com uma carta personalizada do presidente de um dos maiores bancos do Brasil e às vezes do mundo. Ele diz que está muito feliz de ter sido escolhido por você e lhe agradece com uma dádiva extraordinária: “Para comemorar a sua escolha você acaba de receber o nosso cartão que permite comprar em quase todas as lojas do mundo”. Para concluir manda-lhe mensagem carinhosa: “Parabéns. Poucos podem ter este cartão, especial como você”.
Habilidoso, como sempre, o governador Aécio Neves fez um importante discurso em Diamantina, na solenidade em que foram entregues a diversas personalidades as Medalhas do Mérito JK. Mesmo estimulado pela oração anterior do ex-presidente Itamar Franco, que pediu a volta de Minas ao centro do poder, o neto de Tancredo Neves não “mordeu a isca” – e fez um pronunciamento de estadista muito mais do que de um político.
Mais do que as casas, as ruas de Brasília dão problema. Teotônio Vilela, que era um grande "causeur", sempre me dizia que a cidade fora feita para ninguém receber citação judicial, com endereços que apenas referem números e pontos cardeais, como em Nova York, tentando evitar elitismos e criando o primeiro deles, que é de saber, num tempo em que a maioria da população era candanga, quase analfabeta, destas coisas que marcam a Terra.
Para muitos, o assistencialismo é uma prática diversionista, pois camufla as necessidades reais profundas da nossa sociedade. É sempre difícil ao observador criticar os seus efeitos imediatos. Veja-se o caso do Bolsa Família, de que tanto se orgulha o Governo Lula. Há mais gente se alimentando, sobretudo nos estamentos mais pobres da população – e isso para os pragmáticos é o que interessa. No entanto, isso tudo tem um caráter eminentemente efêmero. Pode acabar com uma penada oficial – e o que restará? Possivelmente, mais gente revoltada, dada a perversidade do sistema implantado nos últimos anos.
Um filme de André Cayatte (Justice est faite) conta a história de um réu acusado de um crime. Ele alega inocência, o juiz fica em dúvida e, na dúvida, não o condena à morte, mas à prisão por oito anos. Cayatte, que além de cineasta era advogado militante, termina entrando na história com o seguinte comentário: “Se o réu é culpado, a pena foi pouca. Se o réu é inocente, a pena foi muita. De qualquer forma, a justiça dos homens foi feita”.
RIO - A popularidade de Lula, de 84% nesses idos de março, é o dado inédito das projeções políticas do nosso crescente desenvolvimento sustentado. Não é uma componente esperada da maturação da mudança, mas um lance fundador, do que possa ser uma tomada de consciência da mudança radical dos cenários da nova década. O homem do Planalto se solta de qualquer carisma original no seu êxito e independeu, por inteiro, dos sucessos ou fracassos do PT.
A amiga Márcia Peltier pede minha opinião sobre o emprego (ou não) dos princípios da Ética, na vida brasileira. Primeiro penso em Sócrates, que viveu no período de 469 a 399 a.C. Refletiu sobre a luta entre o bem e o mal, ao dedicar-se a estudos sobre Ética e Conhecimento. Para ele, o vício é o resultado da ignorância do homem, enquanto o conhecimento leva à virtude. A sua clássica ironia o colocava, no começo de uma discussão, sempre na condição do “sei que nada sei”, expressão que hoje está em voga, na nossa política. Conhecendo o bem o homem em geral é levado a agir bem.
Publiquei há tempos, neste mesmo espaço, crônica com este título: ‘Dinheiro não tem cheiro’. Explico a citação: para impedir sujeira nas ruas de Roma, Vespasiano mandou construir mictórios públicos que receberam o nome do imperador. Para compensar o investimento, taxou os vespasianos – até hoje existem alguns no centro histórico da cidade. Seu filho reclamou: achou que era demais cobrar impostos de uma necessidade pública. Vespasiano pronunciou então a frase que se tornou famosa: ‘Pecunia non olet’.
Não é do meu gosto nem de minha obrigação comentar intenções de quem quer que seja, sobretudo de chefes de estado – com exceção parcial do nosso presidente, uma vez que tudo o que ele diz ou insinua pode se transformar numa esperança ou numa catástrofe.
A cada desfile no sambódromo, lembro sempre um conto de Marques Rebelo, que anda um pouco esquecido, mas que pegou com sucesso o veio carioca do romance nacional, iniciado com Manuel Antônio de Almeida (Memórias de um Sargento de Milícias), Machado de Assis e Lima Barreto.
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