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Artigos

  • População excluída

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 05/09/2006

    Dos grandes problemas brasileiros do momento, sou de opinião de que o mais grave e mais urgente é o da marginalização da comunidade negra no País. A festa da abolição foi magnífica. Discursos, passeatas, gritos, vivas, páginas e mais páginas da imprensa exaltando o ato. José do Patrocínio Filho coroado como herói nacional, tudo no melhor estilo brasileiro.

  • Cultura Midiática

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 02/09/2006

    Por iniciativa de Marcos Vilaça, a Academia Brasileira de Letras promoveu um elogiadíssimo debate entre especialistas que se debruçam sobre a Cultura Midiática, ainda sem uma resposta clara se é instrumento de poder ou persuasão.Depois das falas de Domício Proença Filho, Teresa Cruvinel, Merval Pereira, José Nêumanne Pinto e Josias de Souza, a dúvida não foi inteiramente sanada, mas ficou no público de 400 pessoas (Teatro R. Magalhães Jr.) a sensação de que muitos mistérios ainda permanecerão na cabeça dos que trabalham no fascinante campo da comunicação social em nosso País.Vários temas paralelos foram levantados no debate, como a discussão em torno da sobrevivência do jornalismo cultural, na sociedade do conhecimento. Embora lamentando o que viria a comentar, o escritor José Nêumanne, afilhado de Rachel de Queiroz, confessou claramente que "o jornalismo cultural está morto. O seu espaço é cada vez menor, nos grandes jornais, e das revistas então nem se fala." Não acredita em culpados, mas essa é a realidade que deve ser assumida por todos.Estimulou-se, na ocasião, a luta pelo fortalecimento das instituições democráticas, com o uso da palavra e a sua valorização. A revolução digital seria ou não ser culpada pela redução das vendas nas livrarias, mas isso pode ser uma conseqüência episódica do fenômeno. À medida que cresça a necessidade prevista da interatividade, o ideal será a intercomplementaridade de computador e livros, onde é possível sedimentar a cultura do jovem. Ainda não estamos diante dessa sinergia, mas ela é aconselhável, sobretudo nas escolas, onde se processa a relação ensino-aprendizagem.Também o uso indiscriminado da internet foi questionado. Chegou a ser dito que se trata de um "poderoso instrumento de desinformação, tamanho o volume de bobagens que ali se insere." Com um cuidado que não se pode dissociar do bom senso da população: não podemos nos atrelar, assim, ao primado da versão. Pois seria o fim da verdadeira informação, matéria-prima de jornais, revistas e televisões abertas.O bom jornalismo exige que as notícias sejam checadas e, no caso de uma grave acusação, que se dê o direito de resposta ao acusado. Isso é do jogo democrático, até agora ausente da enxurrada de informações irresponsáveis da internet. Trata-se de um uso abusivo, com um grande volume de pornografia e pedofilia, o que parece um movimento crescente e sinceramente lamentável.Há uma redução na circulação de jornais, no mundo inteiro, como se a internet pudesse substituí-los. Ninguém acredita nessa possibilidade, mas numa acomodação natural aos novos tempos. Os jornalistas, hoje generalistas, precisam encontrar matérias atraentes para que esse interesse secular não seja ultrapassado pela informação ligeira e, por vezes, sem fundamento.Veja-se o caso das eleições e as pesquisas de opinião. O público hoje reage de forma diferente até mesmo da eleição passada. Está mais interessado em benefícios do que em discursos programáticos ou até mesmo em denúncias, por mais verdadeiras que sejam. É mudança de atitude que os políticos passaram a perceber e a se valer, nas aparições feitas na televisão aberta. Quem prometer mais tende a levar vantagem. A mídia continua a ter essa força, embora existam versões de que o seu poder não é tão grande quanto se proclama. Uma boa discussão.

  • Poderes do Estado

    Estado de São Paulo (São Paulo), em 01/09/2006

    A expressão "Poderes do Estado" adquiriu, ao longo da História, sentido dúbio e polissêmico. Dos primórdios do século 18 aos nossos dias tem servido para designar um dos mais antigos princípios criados pela filosofia política, o da separação funcional das instituições que representam a soberania dos Estados. Tais Poderes, contudo, há muito superam a divisão tripartite concebida por Locke e aprimorada por Montesquieu. No Brasil adotamos o princípio do "quarto Poder" do Estado, o Moderador, defendido por Benjamin Constant de Rebecque, escritor franco-suíço, e também chamado de Poder Real. Como muitas vezes viria a ocorrer ao longo do nosso evoluir histórico, a inovação foi mal aplicada. O que seria a função moderadora do monarca aos sistemas parlamentaristas se transformou em poder pessoal do imperador, ao ser exercida cumulativamente com o Poder Executivo. Com a engenharia constitucional de 1988, o "quarto Poder" foi inquestionavelmente atribuído ao Ministério Público, pela soma de poderes e atribuições a ele conferido.Não é só no sentido de denominar as instituições que representam a soberania do Estado contemporâneo que historicamente nos referimos aos "Poderes do Estado". A expressão abrange, também, o conjunto de prerrogativas e competências concedidas aos titulares que compõem os órgãos da soberania. Delimitadas pelos textos constitucionais, elas configuram a tênue linha que separa a sociedade política da sociedade civil. A mais visível dessas fronteiras é a que distingue as atribuições do Estado das competências estabelecidas para o exercício das atividades econômicas, tanto pelo poder público quanto pela iniciativa privada. Assim, de um lado, a ênfase recai sobre as instituições representativas das funções do Estado e, do outro, sobre o poder limitado a que se refere o neologismo "poliarquia", utilizado por Robert Dahl para exprimir a multiplicidade dos centros de poder que tornam cada vez mais complexas e, ao mesmo tempo, mais difíceis de operar as democracias hodiernas.Ao regular os limites e Poderes do Estado e assegurar os direitos e garantias dos cidadãos, as Constituições transformaram-se, ao mesmo tempo, em emanação da soberania nacional e instrumento jurídico de defesa dos indivíduos. Dessa maneira se superou a velha querela que opunha a concepção de ser o Estado emanação do Direito à de ser o Direito emanação do Estado. Um novo mecanismo constitucional foi, por isso, regulado em quase todas as Constituições depois da 2ª Grande Guerra Mundial, ao acrescentar um novo Poder à estrutura do Estado, os tribunais constitucionais. Estes são Cortes especiais que procuram manter a eficácia das respectivas Constituições, por meio da hermenêutica, adaptando-as às rápidas transformações por que passam as sociedades. A concepção desse "quarto Poder" se baseia na constatação de que os textos constitucionais não são apenas instrumentos jurídicos, mas também o mecanismo político que mantém viva a prática constitucional, dispensando o recurso às constantes mudanças, por intermédio do oneroso recurso às emendas constitucionais, que tornam os textos dessa natureza cada vez mais conflitivos, geram dúvidas e instabilidade jurídica.Algo que se verifica nos atuais textos constitucionais é que eles são, sob o aspecto técnico-jurídico, "más Constituições", conforme apontou Giovanni Sartori no seu livro Elementos de Teoria Política, editado em 1992. Sua lição parece cada vez mais não só válida quanto oportuna: "Encontram-se nelas deslumbrantes profissões de fé, por um lado, e um excesso de detalhes supérfluos, por outro. Algumas delas já são tão 'democráticas' que já não são Constituições, na medida em que ou bem tornam o funcionamento do governo demasiado, complexo e complicado, ou bem ambas as coisas. (...) Nestas condições, a não-aplicação pode ser um remédio à falta de aplicação. Portanto, devemos regular caso por caso. Seria contraproducente ou pouco sensato aceitar, em todos os casos, o ponto de vista estritamente jurídico segundo o qual toda Constituição deve ser aplicada a qualquer custo. (...) Pessoalmente penso que devemos aceitar sempre se a não-aplicação afeta o funcionamento do governo em relação aos objetivos fundamentais do constitucionalismo, ou não. No primeiro caso, pode-se falar de delitos de ausência de aplicação (conforme define Loewenstein), enquanto no segundo não se pode falar propriamente de delito."Sob esse aspecto, a nossa Carta de 1988 - por sinal, a mais extensa de nossa História - padece, entre outros, do equívoco de acolher inúmeros dispositivos que não são materialmente constitucionais. Volto a Benjamin Constant para lembrar que, segundo ele, a "duração de uma Constituição é bem mais garantida quando encerrada em seus limites naturais do que quando repousa no apoio enganador de uma veneração supersticiosa".Quando um problema político - e o constitucionalismo é inevitavelmente a solução jurídica de um problema jurídico - se despolitiza, ensina Sartori, "as conseqüências efetivas de um ordenamento jurídico neutro são e continuam sendo, ainda que involuntariamente, políticas; e isso beneficia aos demagogos e aos déspotas". Os períodos de autoritarismo e de populismo por que temos passado nos últimos 75 anos não são, em última análise, senão o resultado dessa perversa pendularidade que nos toca corrigir, por meio de uma profunda reforma das instituições políticas, mas também da mais relevante delas, a Constituição que temos e já deixou de ser um texto constitucional para se transfigurar num mero regulamento que entrava o desenvolvimento e constrange, ao mesmo tempo, a economia e a sociedade.

  • Dom Luciano, confessor da esperança

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 01/09/2006

    Arremataram-se em Mariana as vigílias e as procissões que levaram, desde o falecimento do arcebispo, a 27 de agosto, ao clamor da permanência de sua presença pastoral. "Dom Luciano vivo", era o grito repetido do seu povo, reboando na praça central da segunda mais antiga Arquidiocese do Brasil. Fica a vinheta do povo-povo, desfilando diante de seu caixão, a flor depositada, o bilhetinho de oração e, sobretudo, o pedido de toque da carteira de identidade junto ao corpo de Dom Luciano. Dia e noite, sem madrugada de ausência, em São Paulo e, a seguir, em Mariana.Desde a Catedral da Sé, era como uma onda mobilizada, no misto entre a perda e a saudade, e o que o Arcebispo ensinava, sobretudo, à sua gente. Não há exílio, nem adeus, mas, sim, a irradiação de uma presença, que responda ao que foi o seu último recado ao receber o "honoris causa" da Universidade Católica de Belo Horizonte."Não me lembro de um dia sem felicidade", no que a preocupação com o outro se transformou na sua efetiva "segunda natureza", e na vigília sem cansaço, nem distração do que seja o entregar-se. "Sábio e santo", repetiam os pastores, remetendo a lembrança de Dom Luciano a dois dos seus antecessores, Dom Silvério, o erudito, membro da Academia Brasileira de Letras, e Dom Viçoso, o reformador do clero da Arquidiocese, e o primeiro defensor dos carentes à sua volta, em meados do século XIX.Impossível trazer a marca da dedicação do Arcebispo, entre tantas maneiras e formas de estar à disposição do outro. Seja ele o menino de rua de São Paulo, o ancião privado da última ternura dos seus, sejam os próprios sacerdotes, ou, sobretudo, os desmunidos, tratados eufemisticamente, de pobres. Esse trabalho múltiplo surgia na meditação e no serviço da Companhia de Jesus, que fez de Luciano seu primeiro Bispo, após a grande Renovação Conciliar do Vaticano II. E a idéia mesmo desse trabalho de entrega começaria em torno dos seus próprios irmãos do clero. Não houve mais retiros pregados nessas últimas décadas que os de Dom Luciano aos bispos e padres, à intimidade da abertura dos corações, que foram o seu tom e sua capacidade de desarme, diante da fé maior.Militância que vinha para Dom Luciano deste o cuidado dos companheiros de Santo Inácio com o agir à sua volta, com o romper inércias da fé e, sobretudo, vir às brechas do testemunho, dentro do rigor da meditação interior. Ainda na Companhia de Jesus, fora Reitor do Colégio Apostólico, Diretor da Faculdade de Teologia e Vice-Provincial Geral dos Jesuítas. Mas, sobretudo, Mestre da 3ª provação, que é a vocação especial, da ascese e da graça que reclama o aperfeiçoamento espiritual, o teste final para a plenitude inaciana. Resulta do implacável exame de consciência em trinta dias, de reexame da vida e de busca, de fato, do segredo e das expectativas da última doação.Talvez por essa exigência de militância, Dom Luciano tenha, no seu ministério, se dedicado, sobretudo, a um sacramento deixado quase fora da vida cristã, qual o da confirmação ou do crisma. Morreu na alegria de ter efetuado, ao longo da sua vida de bispo, mais de 100 mil unções à testa dos fiéis. E quantos, nas praças de Ouro Preto e de Mariana, agora, levantavam a mão, rememorando este momento de encontro, que Dom Luciano soube despertar irremissivelmente em suas vidas. Quantos padres foram ordenados, o último, há um mês em Dores do Turvo, em saída de horas, do Arcebispo, do Hospital de Belo Horizonte.Repetiram-se as presenças públicas, ao lado de Dom Luciano, nas exéquias finais. Tanto pode Aécio Neves falar da têmpera e da ternura de Dom Luciano, quanto Lula, deste dom da esperança, a confessá-la a qualquer classe, à abertura de qualquer diálogo, no desarme de qualquer desconfiança. Um Brasil que se faz - repetiu o Presidente - à imagem do Prelado de Mariana - não encontraria segmento, grupo político, bancada, que não se abrisse à interpelação ou ao pedido do Arcebispo.Bandeiras dos Sem-Terra na Praça da Matriz; da "vida pela vida"; da "via campesina"; flâmulas de tantos movimentos sociais, ao lado do que o povo "Kranaque" lhe trouxe de cânticos ao lado do caixão. Presença junto aos índios; junto aos quilombos; à pobreza envergonhada, junto aos deficientes físicos e mentais, nos dias de esperança do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e do Bispo na UTI, a suscitar as missas e os rosários nos seus corredores.Nos tempos de uma "civilização do medo" era a própria recuperação do movimento ecumênico que se reunia em volta ao caixão de Dom Luciano. E não foi outro que o risco do genocídio no Líbano, que marcou os seus últimos artigos, inclusive o deixado interrompido, à hora em que saiu do quarto para as terapias de urgência.Todo o episcopado brasileiro fez de Dom Luciano o mais votado entre os escolhidos para a Comissão Permanente dos novos Sínodos que começa Bento XVI. E o Papa, no Vaticano, no dia de seu enterro, diante do retrato e da notícia, num frêmito de comoção, repetiu "Santo Bispo, de Deus e da Igreja".Nos momentos de secularização que vivemos - tão atrasados estamos, na "cultura da paz" e do desarme dos corações - o recado de Dom Luciano nos deu no coração do religioso de Minas, o recado de que participa todo o País. Não há gentios para o seu sorriso, nem prontidão ou desconfiança da alma diante de quem perguntou, por mais de seis décadas: "Que posso fazer?".

  • a grande ausente

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 01/09/2006

    No Brasil, nunca a política externa fez parte da política interna. As relações internacionais estão, na maioria das vezes, ao nível de relações diplomáticas, bilaterais e quando muito uma quermesse de reuniões em que predominam os comunicados finais.

  • Mestre Agostinho

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 29/08/2006

    Achava-me em Londres, em 1994, quando Agostinho da Silva morreu. Assim que soube da notícia, escrevi sobre ele e sua obra para um jornal do Rio. Agora, que estamos comemorando o centenário de seu nascimento, vale a pena que se chame de novo a atenção para a importância de sua obra. De uma estirpe foi ele, a estirpe romano-visigótico-galego-luso-brasileira em que necessariamente nos inserimos. De estirpe é todo o gênio que, pés no chão, tem a visão do caminho.

  • O corredor agrícola

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 26/08/2006

    A idéia de existir um corredor agrícola, no Rio de Janeiro, vem de longe. Começou em 1979, com 14 escolas da rede estadual de ensino, inclusive duas que foram especialmente criadas com esse espírito: uma em Teresópolis (Centro Interescolar Agrícola José Francisco Lippi) e outra em Valença (CIA Monsenhor Tomás Tejerina de Prado). A primeira foi inaugurada no final do nosso mandato (1983) e a segunda num dia inesquecível: choveu uma barbaridade. O par de sapatos do Secretário de Educação foi deixado na escola, como lembrança.Há pouco, o Corredor Agrícola foi recriado, pela Secretaria de Estado de Educação, desta feita com nove escolas. Quais as vantagens? Oferecer oportunidades aos jovens do interior e até mesmo a chance de vender os seus produtos nas feiras locais, carentes de hortigranjeiros de primeira qualidade, sem a absorção dos lamentáveis agrotóxicos em doses excessivas. A importância desse movimento é muito grande, pois até hoje o Rio de Janeiro, com excelentes condições de clima e solo, depende da importação de produtos agrícolas de estados vizinhos. Só produzimos cerca de 20% do que consumimos.Isso encarece os produtos essenciais à cesta básica dos cidadãos. Eles chegam por intermédio de caminhões, em percursos penosos pelo mau estado das nossas estradas, e naturalmente mais caros. Se formos examinar a relação custo/benefício, a conclusão será óbvia: temos que produzir aqui mesmo, aproveitando áreas disponíveis, no interior, pois nem todas foram tragadas pela voragem imobiliária ou pela visível industrialização que hoje marca o Estado fluminense.O objetivo dessas escolas é, após analisar e identificar as necessidades e demandas das regiões onde estão inseridas, aplicar e desenvolver iniciativas, por intermédio de alunos e professores, que são efetivadas nas próprias unidades ou até mesmo em pequenas propriedades rurais próximas. Na linha do combate à exclusão, na aprendizagem de técnicas adequadas e no estudo do mercado de comercialização, esse trabalho contribui para a melhoria da qualidade de vida dos que estão envolvidos no projeto.Por outro lado, ele se insere nos projetos mais amplos do Governo do Estado, que criou programas como o Frutificar, o Florescer, o Prosperar, o Multiplicar, e o de Cultivo Orgânico, com os quais existe uma interação necessária. Todos ganham com esse entrosamento.O CIA José Francisco Lippi está com 1023 alunos, aos quais se oferece o curso de técnico em agropecuária. Trabalham com a produção de mudas de plantas olerícolas e ornamentais, fruticultura, paisagismo, hidroponia e preparação e cultivo de bromélias. Possui também uma estação climatológica que transmite dados para todo o País. O CIA Monsenhor Tomás Tejerina de Prado tem 178 alunos, aos quais são oferecidas oportunidades em zootecnia, agricultura, processamento de produtos agropecuários, administração de propriedades rurais e desenho e topografia. Em Cambuci trabalha-se a piscicultura, em Itaperuna (CIAPI) a vez é dos cursos de olericultura, hortofruticultura, jardinagem, caprinocultura, avicultura, apicultura, etc. Em Friburgo é a vez da produção de mudas e hortaliças através de estufa e reflorestamento de eucaliptos. Os exemplos são numerosos de uma atividade que merece toda a prioridade do Estado.

  • A reeleição, sem o PT, sem herdeiros

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 25/08/2006

    Os últimos dados das pesquisas eleitorais já vão, após o começo das campanhas na TV, praticamente, aos 50% de voto em Lula. Continua no Planalto o petista sem o PT e sem herdeiros, e reforçado pela maciça votação do país de fora que não se engana e tem a consciência da opção pelo outro Brasil. É este o verdadeiro trunfo da mudança hoje a depender cada vez mais desta aposta visceral do Presidente, mas que ultrapassa toda idéia de carisma ou de laço personalíssimo com o governante e aponta a percepção primária do por onde sair-se de um país estruturalmente injusto.

  • Do cacete à eletrônica

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 25/08/2006

    João Francisco Lisboa escreveu um clássico sobre a evolução do processo eleitoral: Eleições na Antiguidade.

  • O PCC e a Carta Magna

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 23/08/2006

    A TV Globo exibiu, sob iminência de morte de seu funcionário seqüestrado, o comunicado do PCC, concernente à situação dos presidiários em São Paulo. Denuncia sua exposição o tratamento que viola a garantia dos direitos humanos assegurada pela Carta Magna. Indo ao ar dentro desta ameaça-limite, o documento se caracteriza como peça jurídica, mantida no estrito rigor de um requisitório dos tribunais, e cobra o respeito, nas cadeias de São Paulo, à integridade física e psicológica do detento.

  • Público e Privado

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 21/08/2006

    A distância que vai da antiga pólis dos gregos, com alguns poucos milhares de habitantes, ao Estado contemporâneo, em especial nas sociedades de massa de nossos dias, é a mesma que separa a maioria dos cidadãos da democracia. Esta é, seguramente, a razão pela qual, quase em toda parte, as instituições políticas e os poderes do Estado não são os mais bem avaliados pela opinião pública. A percepção do cidadão é a de que conceitos como política, poder e autoridade não são mais que entraves aos seus direitos.

  • Mário de la Mancha

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 19/08/2006

    Mário Mendonça, o maior pintor sacro contemporâneo do Brasil, tem feições e o porte que lembram quem foi, na ficção de Miguel de Cervantes, o fidalgo D. Quixote de la Mancha, cavaleiro da triste figura e proprietário único de diversos sonhos impossíveis.Daí não constituir surpresa a atração do nosso artista, justamente homenageado pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, com a medalha Pedro Ernesto, pelo que representou a sua fidelidade a D. Quixote, que pintou 38 vezes, de formas diferentes, para compor uma de suas mais bem sucedidas exposições. Tivemos o privilégio de ser uma espécie de curadores da homenagem prestada, na Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro, aos 400 anos da obra-prima de Cervantes, retratando a bela e generosa alma do pintor que, depois do êxito, doou parte dos desenhos para instituições culturais, com o natural compromisso de sua conservação, para garantir o acesso à merecida posteridade.Na ocasião, comoveu-nos a apreciação de Ana Lígia Medeiros: "O traço elegante e comovente de Mário Mendonça leva o observador a caminhar lado a lado com os cenários e sentimentos que retratam a viagem entre o sonho e a realidade, empreendida pelo sempre memorável cavaleiro andante." Os desenhos são de tamanhos variados efeitos a nanquim, extrato de nogueira, guache e lápis de cor sobre papel I. Fabian.O trabalho deste carioca ilustre - do qual nos orgulhamos - foram levados a Madri, ao lado de bem sucedidas pinturas à óleo por outra de suas paixões, a cidade mineira de Tiradentes, onde, aliás, dispõe de um estúdio bastante confortável. O comentário é de um dos mais famosos jornais da Espanha: "D. Quixote, além da óbvia homenagem à Espanha, assume o lugar do personagem favorito de Mendonça, o Cristo. É o homem do mundo, o herói alucinado, portador de inquestionável grandeza, capaz de reformar um conceito de vida." Houve um incrível sucesso de vendas e, como sempre faz, o pintor carioca destinou os resultados financeiros à APAE de Tiradentes, para reforço às suas atividades assistenciais.Mário tem notoriamente um espírito ecumênico, demonstra os seus sentimentos nas reuniões mensais do Conselho Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro, onde o convívio prazeroso representa também um claro aprendizado. Foi dele que partiu a insistência para que fosse criado o Museu de Arte Sacra do Rio de Janeiro, a fim de evitar que peças históricas fossem roubadas das igrejas cariocas. Hoje, ainda modesto, o Museu é uma realidade, na paisagem do centro do Rio de Janeiro.Nossa amizade tem ainda outra vertente. Sabedor que estava finalizando os originais do livro "O martírio de Branca Dias", ofereceu, de coração, a colaboração na feitura da capa e de alguns desenhos do miolo da obra, que a valorizaram imensamente. Livro ilustrado por Mário Mendonça é uma sublime preciosidade. Daí o comentário feito na abertura da obra, que será lançada pelo Centro Universitário FMU, em São Paulo: "Artista de muitos prêmios nacionais e internacionais, Mário Mendonça representa na capa a heroína olhando para o alto, com seus lindos olhos verdes, como se apelasse ao Senhor para coibir a violência dos atos da Inquisição."A realidade luminosa de Mário Mendonça encontrou inspiração em Jesus Cristo, talvez o seu momento mais alto de plenitude, na elaboração das obras que marcaram a carreira brilhante de Mário Mendonça. Ele merece, por suas atividades, as homenagens carinhosas da sociedade brasileira, que dele se orgulha.

  • Enfim, a virada de página

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 18/08/2006

    Começam um a um dos incriminados no processo dos sanguessugas a desistir de voltar às eleições. É como se o excesso de abuso começasse a bater na consciência política, após o escárnio do mensalão. O Congresso já moeu a carne da vergonha até a medula ao absolver os primeiros implicados em manifesto caso de corrupção da República, cosanostra. O País sequer continuou a prestar atenção a um perdão após outro, apesar das manifestações das CPIs, ouvidos moucos e frouxos dos colegas de plenário, tapinha nas costas e chopada com os julgadores de uma hora antes.Do escândalo nas manchetes seguiu-se a vergonha silenciosa diante do País, pela qual a larga maioria do Congresso consagrou, como usos e costumes da política brasileira, o recurso ao caixa 2 e ao uso do dinheiro público para a paga de despesas eleitorais. Não faria verão já, entretanto, a etapa subseqüente da modernização da máfia orçamentária, através da apropriação das verbas federais, a equipamentos públicos e dinheirama, dividida entre o empresário de todas as audácias, e os deputados de todas as emendas e subemendas.No que ainda era o respingo democrático e múltiplo do valerioduto, a esbórnia dos sanguessugas evidenciou já uma burocracia disciplinada da corrupção. No seu trivial, pôde se fartar no baixo clero e, dentro dele, serviu para expor a especial desenvoltura para o crime das neobancadas chegadas ao parlamento. Ou seja, a dos evangélicos, sem a tradição política profissional da traquitana do dinheiro fácil, disfarçado das ambulâncias, franqueadas entre o dízimo dos pobres e a comissão dos novos ricos do Congresso.

  • Meus encontros com Bandeira

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 16/08/2006

    Estava nos meus 15 anos. Parecia, porém, ainda mais novo, porque era franzino e frágil. Sabia de cor a metade dos versos de Bandeira, que tinha então 60 anos, mas parecia também mais jovem - um quarentão que os cuidados impostos pela tuberculose conservaram desde a adolescência.