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Artigos

  • Queen Fleming

    O Globo, em 06/11/2012

    Renée Fleming passou pelo Teatro Municipal, domingo, arrastando o seu manto de rainha da vida musical americana e mundial. Sem muito esforço, majestosa mas simpática, ela começou por afastar um de nossos antigos temores, quando aparecem por aqui grandes divas que nunca vieram antes: o de sermos confrontados com os destroços de um aparelho vocal (foi assim com Jessye Norman, Kathleen Battle, Ileana Cotrubas, Gundula Janowicz). Não desta vez: o milagre está lá, um timbre de beleza imaterial, musicalidade envolvente, um modo astuto e macio de subir para os agudos levando a nota até a iluminação total. Aos 53 anos, ela sabe que tem na garganta um Stradivarius que não vai durar muito. A voz é perfeita, com o toque pungente das rosas que já se afastam do desabrochar. A sábia Fleming se cuida: no recital de domingo, só havia dificuldades moderadas nos trechos do "Otello" (ela sempre foi uma grande Desdêmona). No mais, o veludo das canções de Strauss (o Richard), um "Summertime" (já nos extras) que só poderia fazer uma jazzista americana como ela. Momentos (vários) para ficar na memória.

  • A natureza não aceita ofensa

    Jornal do Commercio (RJ), em 05/11/2012

    Todas as vezes em que a palavra sustentabilidade vem à tona, surgem os termos essenciais para a nossa sobrevivência: água, comida e energia. Vivemos problemas que afetam os 7 bilhões de habitantes do nosso planeta. Aqui mesmo, no Brasil, temos o paradoxo de secas terríveis no Nordeste, com municípios onde não chove seis ou sete meses seguidos, enquanto em outros da mesma região as chuvas provocam enchentes devastadoras. É um fenômeno incontrolável.

  • Divagações sobre o passado

    Diário do Amapá, em 05/11/2012

    Muitas vezes me disseram que era necessário dar um murro na mesa. A expressão, bem simplista, é daqueles que acreditam que se podem resolver impasses com gesto de força. Respondia que podia quebrar a mesa ou quebrar a mão, sem excluir quebrar as duas.

  • O "povo de Lula" nas urnas

    Jornal do Commercio (RJ), em 05/11/2012

    O primeiro dado das eleições municipais é o recorde de abstenção, só comparável aos de vintena atrás. Nenhum nervo de mobilização que prefigure o futuro, num novo jogo de forças partidárias nacionais. O que irrompe, sim, é a força do "povo de Lula", cada vez mais desligado da legenda, e marcando esta virada de página da consciência nacional, desde as primeiras vitórias do PT. De toda forma, derrubou-se, de vez, a miragem do pseudonovo, começada pelo abate de Russomano e, agora, pela liquidação eleitoral de Ratinho Jr., em Curitiba.

  • Maravilhoso mundo

    O Estado do Maranhão, em 04/11/2012

    Rimbaud, o poeta de Uma temporada no inferno, escreveu, com a angústia de viver o tempo futuro, a sentença de que "devemos ser absolutamente modernos" . A roda do mundo nos faz o passado parecer sempre melhor, vendo o presente como um vencer dificuldades e com a certeza de que a vida é feita com o dia-a-dia. O futuro nos seduz a pensar num terreno azul de soluções e esperanças. O passado é o já vivemos, já vencemos a graça da vida. A sensação do presente é o mar das sobrevivências, das ciladas do cotidiano, em que ainda há muito o que fazer para o próximo, para a humanidade e para acabar com todas as injustiças. É uma inconformação com o sofrimento, com o medo e com o próprio presente. Já o futuro é uma busca de esperança, no mínimo a incerteza quanto a dias piores. Foi Alçada Baptista, o extraordinário escritor português, autor da Peregrinação Interior, quem me fez lembrar que o padre Vieira tinha "saudades do futuro", o que completa o ciclo das vivências, porque o racional são as saudades do passado.

  • Fiasco de CPI

    O Globo, em 03/11/2012

    A CPI do Cachoeira nasceu de uma estratégia equivocada do ex-presidente Lula e de José Dirceu na tentativa de, se não impedir, pelo menos tumultuar o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Já que o adiamento para as calendas gregas não foi conseguido com o assédio pessoal de Lula a ministros, dos quais o mais vistosamente frustrado foi ao ministro Gilmar Mendes, que denunciou a tentativa de chantageá-lo, partiram os petistas para montar uma CPI que colocaria a oposição contra a parede.

  • Lula no seu labirinto

    O Globo, em 02/11/2012

    O julgamento do mensalão, que se encaminha para seu fim com a definição das penas dos condenados após o STF ter decidido que houve, sim, desvio de verba pública para compra de apoios políticos, clareou o cenário para a discussão sobre se o ex-presidente Lula sabia ou não do que ocorria "entre quatro paredes" no Palácio do Planalto, o aspecto mais delicado politicamente desse processo.

  • Começa o jogo

    O Globo, em 31/10/2012

    De repente, houve percepção generalizada de que o PSB cresceu e surgiu como um dos mais importantes partícipes do jogo eleitoral. Mas ele já era partido com forte penetração no Nordeste, com seis governadores eleitos, sendo quatro nessa região: Pernambuco, Ceará, Paraíba e Piauí. O que deu caráter nacional ao PSB nesta eleição municipal foi ter enfrentado e derrotado o PT em capitais como Recife, Fortaleza e Belo Horizonte.

  • O lobo e o cordeiro

    Folha de S. Paulo, em 30/10/2012

    Aos 11 anos, obrigaram-me a decorar uma fábula de Esopo, reescrita em latim por Fedro. Até hoje a sei de cor: "Ad rivum eundem lupus et agnus...". O lobo e o cordeiro vieram ao mesmo rio. O lobo quis comer o cordeiro que estava sujando a água que pretendia beber.

  • O novo-velho

    O Globo, em 30/10/2012

    A figura que melhor representa o atual estágio de nossa política partidária, até porque, mesmo responsável direto pela maior derrota de seu aliado PSDB, pode se considerar “vitorioso” nesta eleição, é o prefeito Gilberto Kassab. As características mais enraizadas, a esperteza mais óbvia, todas as ambiguidades de nossa política que afugentam o eleitor das urnas em nível nunca antes registrado estão reunidas em Kassab e em seu novo-velho PSD, partido que não é “nem de centro nem de direita nem de esquerda”.

  • Dosimetria

    Folha de S. Paulo, em 28/10/2012

    Confesso que, por isso ou aquilo, por preguiça mental ou por genérica ignorância, nunca havia me deparado com a palavra "dosimetria". Salvou-me não o Rhum Creosotado, mas os debates no STF da ação penal 470, que a plebe rude prefere chamar de mensalão. Desconfiei o que era e fui ao "Aurélio" confirmar. Resumindo, trata-se do cálculo da pena prevista nos códigos específicos para um condenado pela Justiça.

  • Mais um serviço para o chato a jato

    O Globo, em 28/10/2012

    Mesmo no tempo das hélices, já havia chato a jato. Claro que já havia, o que não havia era avião a jato. A designação de hoje se deve à tecnologia dos aviões atuais, mas creio que, desde que o homem passou a utilizar meios de deslocamento que não as pernas, o chato a jato já existia. Hão de ter existido chato a cavalo, chato de trenó, chato de trirreme, chato de caravela e assim por diante. No meu caso, que sou chato a jato, não acho impossível que se trate de um problema de origem genética. O coronel Ubaldo, meu façanhudo avô materno, que nunca chegou nem perto de um avião e ficava inquieto nas raríssimas ocasiões em que algum deles sobrevoava a ilha, era renomado chato de canoa e de lombo de jegue.

  • Irreverência plena a favor do país

    O Estado de S. Paulo, em 27/10/2012

    Darcy Ribeiro (Montes Claros, MG, 26 de outubro de 1922-Brasília, DF, 17 de fevereiro de 1997) foi o menos convencional, e talvez o mais destemido, dos nossos intelectuais. Lutou energicamente em várias frentes. Como antropólogo, professor, político, escritor de perfil plural, ensaísta, romancista, poeta, memorialista. Foi igualmente um bem-sucedido gestor cultural e educacional. Jamais pode ser visto como um conformado. Pertencia à família, não muito numerosa, dos militantes da esperança.

  • O voluntarismo de Barbosa

    O Globo, em 27/10/2012

    As críticas do relator Joaquim Barbosa ao sistema penal brasileiro, feitas no ardor de uma das muitas discussões com o revisor Ricardo Lewandowski, explicam seu empenho em dar penas mais pesadas aos réus, tratando cada crime separadamente, sem a preocupação de calcular a pena como um todo, no dizer do revisor.

  • Preocupação saudável

    O Globo, em 26/10/2012

    Mesmo que demonstrem estar aprendendo na prática a fazer dosimetrias, e que por isso não consigam deslanchar a conclusão do julgamento do mensalão, os ministros do Supremo Tribunal Federal estão dando uma demonstração pública de suas preocupações com a coerência de seus votos, sempre no sentido de não atribuir aos réus penas que não correspondam à real participação de cada um no esquema de corrupção.