Morreu na manhã desta terça-feira (17), aos 90 anos, o jornalista Cícero Sandroni, imortal da Academia Brasileira de Letras. Segundo a ABL, Sandroni morreu em casa, no Cosme Velho, Zona Sul do Rio, em decorrência de um choque séptico causado por infecção urinária. Ele deixa a viúva Laura Constância Austregesilo de Athayde, cinco filhos (Carlos, Clara, Eduardo, Luciana e Paula) e um neto, Pedro. O velório será nesta quarta-feira (18), a partir das 10h, na sede da Academia Brasileira de Letras.
Trajetória na imprensa
Nascido em Guaxupé, no sul de Minas Gerais, em família de origem italiana, Cícero Sandroni iniciou seus estudos em São Paulo antes de se mudar com a família para o Rio de Janeiro, em 1946. Se formou em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e estagiou em veículos como Tribuna da Imprensa, Correio da Manhã e Jornal do Brasil. No final dos anos 1950, foi repórter do GLOBO, se especializando na cobertura de política internacional. Em 1960, cobriu a primeira visita do líder soviético Nikita Kruschev à ONU.
Em 1961, assumiu o cargo de Secretário de Imprensa da prefeitura do Distrito Federal e participou da redação da única mensagem enviada por Jânio Quadros ao Congresso Nacional. Também foi presidente do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM), cargo do qual foi afastado após o golpe militar de 1964.
De volta à imprensa, trabalhou na Tribuna da Imprensa e na revista O Cruzeiro. Com Odylo Filho, Álvaro Pacheco e o diplomata Pedro Penner da Cunha, criou uma empresa gráfica de onde saíram as duas primeiras edições da revista de contos Ficção.
Em 1965, participou de uma conferência de jornalistas em Bonn, na Alemanha, que resultou na criação da agência internacional de notícias Interpress Service, da qual foi diretor no Brasil. No mesmo ano, retornou ao Correio da Manhã, onde escreveu a coluna diária "Quatro Cantos!", de oposição ao regime militar.
Sandroni fundou ainda a editora Edinova, com Pedro Penner, pioneira na publicação de literatura latino-americana. Também foi editor das revistas Fatos e Fotos, Manchete e Tendência, colaborou com a revista Elle e assinou resenhas literárias no GLOBO. Em 1976, lançou novamente a revista Ficção, com Fausto Cunha, Salim Miguel, Eglê Malheiros e Laura Sandroni. A revista publicou mais de 500 autores brasileiros em 44 edições.
Em 1974, Sandroni foi reconhecido com o Prêmio Esso de Jornalismo. Em 1976, ao lado Nélida Piñon, Lygia Fagundes Telles e Hélio Silva, entre outros, participou do Manifesto dos Mil, documento dos intelectuais que acabou com a censura.
ntre os anos 1990 e 2000, foi editor de cultura e opinião e depois diretor-adjunto do Jornal do Commercio. Em 2000, participou da reforma gráfica que modernizou o jornal e criou o suplemento cultural de artes e espetáculos. Deixou a redação em agosto de 2003 para escrever a história do Jornal do Commercio.
Escritor e imortal
Sandroni foi autor de diversos livros, como "O diabo só chega ao meio-dia" (1985), "Cosme Velho" (1999) e "O peixe de Amarna" (2003). Junto com sua mulher, Laura, escreveu "O século de um liberal" (1998), sobre a vida e obra de Austregésilo de Athayde, seu sogro.
Cícero Sandroni foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL) em 6 de junho de 2002, ocupando a cadeira nº 6, que pertenceu a Roberto Marinho. Ele tomou posse em 16 de agosto de 2002. Em 13 de dezembro de 2007, foi eleito presidente da instituição e permaneceu no cargo até 2009.
— Cícero vai fazer muita falta na Academia, porque ele era um acadêmico muito presente, ativo — lamenta Merval Pereira, atual presidente da ABL. — Ele era uma pessoa agradabilíssima. Uma pena que tenha partido. No jornalismo, foi uma figura influente. Fez um belo livro sobre o Austregesilo de Athayde, junto à Laura. E deixa muitos textos importantes sobre o Rio de Janeiro.
O poeta, romancista, ensaísta, tradutor e editor Marco Lucchesi, colega de Sandroni na ABL, usou as redes sociais para lamentar a morte do amigo. "Adeus , querido Cícero Sandroni. Saudade e admiração ao amigo de aliança democrática e civil. Realizamos um fato histórico: a paz entre as repúblicas de Pisa e Lucca, que era tema recorrente de nossa lúdica amizade. Toda solidariedade à família", escreveu Lucchesi em publicação no X.
Matéria na íntegra: https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2025/06/17/morre-o-jornalista-cicero-sandroni-imortal-da-abl-aos-90-anos.ghtml
18/06/2025