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Artigos

  • O pertinaz Brasil de Renan Calheiros

    Duvida-se hoje, mais que há um mês, que Renan Calheiros será cassado. Todos os sintomas estão aí na frenagem do processo, empurrado à boa e tépida desmemória nacional. A polícia pede mais tempo, os dossiês não se concluem, as denúncias entram em delta amazônico, confiando no estuário final da confusão. Na crônica da corrupção esperada e consentida da vida política brasileira, o senador Calheiros inova, na determinação absoluta do pagar para ver e confiar na realpolitik do sistema por sobre a moção do aparelho de justiça e seu possível desfecho. Entre opositores e clãs do status quo uma convicção crescente se impõe, de que a crise perdeu todo o impacto, para ser administrada pelas comportas do "tudo bem" e, afinal, do "deixa disso".

  • Rumo a seguir

    Um peregrino caminhava por uma estrela quando um homem a cavalo passou por ele, e quase o atropelou. Assustado, ele percebeu que o cavaleiro tinha a expressão malvada e as mãos cheias de sangue. Minutos depois, um outro cavaleiro se aproximou. O peregrino pôde reconhecer Paulo de Tarso, apóstolo do Cristianismo. “Você viu um cavaleiro por aqui?”, perguntou Paulo de Tarso. “Vi”, respondeu o peregrino. “Quem era ele?”. “Um malfeitor”. “Eu preciso alcançá-lo”. “Para entregá-lo à Justiça?”. “Não”, respondeu Paulo. “Para ensinar-lhe o caminho certo para seguir”.

  • Crise na saúde pública do Nordeste

    Nunca a palavra crise foi pronunciada com tanta ênfase, com tanto desgosto e com tanto horror quanto está ocorrendo nos estados do Nordeste, a partir de Maceió, Pernambuco, Ceará e Piauí. O clima social está exageradamente perturbado pela ineficiência no serviço médico e hospitalar, com doentes à beira da morte por falta de atendimento de urgência.

  • Frases do Joel

    RIO DE JANEIRO - A incapacidade do cronista em fazer frases inteligentes levou-o a admirar aqueles que são capazes de fazê-lo, como Nelson Rodrigues, o mais famoso e citado de todos, seguido de perto por Otto Lara Resende, a quem precariamente substituo neste canto de página desde 1993.

  • O maior repórter

    Embora tenha escrito mais de 20 livros, alguns dos quais sobre a epopéia vivida na Itália, como correspondente de guerra, Joel Silveira tinha orgulho da sua condição de repórter, seguramente o maior de todos da nossa geração. Superou Samuel Wainer, também um mestre.

  • O azar do Peru

    Grande nação, com passado rico e peso nas relações internacionais com outros países, o Peru sofreu agora um abalo tremendo, um terremoto de alto poder destruidor na escala Richter.

  • Arquitetura e Supremo

    APÓS A SEGUNDA Guerra Mundial, quando o Parlamento britânico havia ficado em ruínas, cresceu uma discussão envolvente sobre como deveria ser a reconstrução. Uma corrente levantou a idéia de buscar-se uma nova área e aproveitar a oportunidade para construir um prédio moderno. Outra corrente defendeu a reconstrução com a ampliação dos módulos, modernizar as velhas instalações. O gênio de Winston Churchill disse um grande não às duas propostas e decidiu que a Câmara dos Comuns, aquela sala modesta, que se reúne como se fosse uma família, deveria ser reerguida como sempre fora: com galeria pequena, mesa central, bancos nas laterais e modéstia setecentista. Seu argumento era o de que o estilo do Parlamento britânico correspondia à sua arquitetura. Fazia fugir da retórica, decidir como se fosse uma família, ser veemente sem ser verboso, irônico sem ser vulgar. A arquitetura se confundia com o trabalho parlamentar, e modificá-la seria modificar a Inglaterra. Escreveu uma página brilhante sobre o assunto.

  • Contra os mensaleiros

    Leio que a tendência dominante no Supremo Tribunal Federal é a de abrir ação contra os mensaleiros. Não basta a tendência, a decisão é necessária. O que são os mensaleiros? São corruptos que aproveitaram brechas fáceis para obter dinheiro, ainda que esse malabarismo recaia sobre a difícil conquista da democracia plena no Brasil.

  • Um treino para a vida

    O jovem estava no estágio final de seu longo e árduo treinamento, depois de muitos anos. Em breve, ele afinal seria um mestre, como sempre sonhou. Como todo excelente aluno, sentia que precisava desafiar seu professor e também desenvolver sua própria maneira de pensar. Capturou um pássaro, colocou-o numa de suas mãos e foi até seu mentor, dizendo para ele: “Mestre, esse pássaro está vivo ou morto?”. Seu pensamento e plano eram os seguintes: se o mestre dissesse “morto”, ele abriria a mão e o pássaro voaria. Se a resposta de seu mentor fosse “vivo”, ele esmagaria a ave entre seus dedos. Dessa maneira, o mestre estaria errado. “Mestre, este pássaro que está em minha mão está vivo ou morto?”, repetiu o discípulo. “Meu caro aluno, depende somente de você”, respondeu o mestre, sereno. O jovem estava no final do seu estágio e queria testar seu mestre de forma errada.

  • História de um tempo

    Nem toda crônica é autobiográfica, mas, com a própria palavra original "cronos" significando "tempo", é natural que muita crônica se apoie no "tempo" de quem a escreve. Não só o grande mestre do gênero entre nós, Machado de Assis, lembrou o passado no escrever sobre o presente, mas deixou uma tradição a que esteve a crônica brasileira sempre ligada. Vejo no livro de Pedro Rogério Moreira, saído agora, "Jornal amoroso", um dos bons escritos biográficos brasileiros do momento. A experiência jornalística contribuiu para que seu estilo autobiográfico atingisse, como atinge, um alto nível de qualidade.

  • Réquiem para o indivíduo

    RIO DE JANEIRO - Descobriram com cívico entusiasmo que a Constituição garante a liberdade de expressão que legaliza e justifica a liberdade de informação. Acontece que a mesmíssima Constituição garante a privacidade de cada um, fazendo de cada cidadão o guarda insubstituível de sua moral e imagem.