
Boa pergunta
Pessoal mais comprometido com o governo insiste em declarar que até agora não surgiram provas definitivas sobre o "mensalão", considerando o parecer do relator da CPI dos Correios precipitado e até mesmo leviano.
Pessoal mais comprometido com o governo insiste em declarar que até agora não surgiram provas definitivas sobre o "mensalão", considerando o parecer do relator da CPI dos Correios precipitado e até mesmo leviano.
Às vésperas das rabanadas de Natal o Congresso nos garantiu a digestão esperada da crise pelo grande acordão. Nada mais, nada menos do que o deputado Romeu Queiroz, de alcance estrondoso no valerioduto - nesses seus R$ 350 mil - sai ileso de qualquer castigo. Tutta bona gente, que o parlamentar é o amigão de todos, gente boa e gente fina, e não passa pela cabeça impor-lhe o desagrado da expulsão do paraíso. Vá o ano em paz, e por aí mesmo assegure esse as boas festas dos companheiros vistos a caminho do cadafalso, ainda há um mês. Como baixar-se o cutelo sobre os pescoços menos óbvios já que a acusação é a mesma, só que muitas vezes em ganho de trocados e não da lauta soma, pela qual o Conselho de Ética pretendeu tornar irretorquível o bater do martelo condenatório.
A complexidade do Brasil não lhe nega a unidade em que língua e religião reforçam o tecido do país. Assim, a palavra Nordeste vinca seu perfil numa identidade forte e, por vezes, fagueira, a nos mostrar um Brasil plantado no solo, onde é marcante a presença de um humanismo próprio, como a dizer que os avanços da tecnologia não nasceram para desmentir o que há de humano no homem. A poeira das caatingas do solo nordestino nos fala ao imaginário e à consciência de que a realidade jamais se cristaliza, mas desliza nas conversas ao pé do ouvido. É certo que o folclore nos dá conta das tradições que por lá campeiam, mas tudo feito de leveza e de comunicação. O ruído das vozes cantantes, as cantigas improvisadas, as danças regionais, as manifestações religiosas estão a revelar uma inegável especificidade.
Visitei, há alguns anos, nos arredores de Viena, o pequeno sanatório em que Franz Kafka morreu. A casa é hoje um museu dedicado ao escritor, com a cama em que dormiu, ou não, suas últimas semanas de vida.
Gostei da homilia proferida pelo papa durante a missa do Galo, na medida em que me entediei com seu pronunciamento, no dia seguinte, na praça do lado de fora, quando disse o óbvio, as coisas que todos dizem em datas festivas ou marcadas por alguma tragédia.
É bem conhecido da classe política o senador Antonio Carlos Magalhães. Suas intervenções a propósito dos males da nossa democracia são sempre comentadas, sua cólera contra inimigos e adversários e suas reações ao que não o agrada também. O senador não tem freios, diz o que pensa, gostem ou não do que ele diz. Evidentemente, o senador tem defeitos.
Durante meses tentou arranjar emprego. Inutilmente. Era muito jovem e inexperiente, ninguém queria contratá-lo. A situação tornava-se desesperadora: vivendo ao relento, numa cidade distante da casa paterna, já estava até passando fome. E o pior é que não conseguia nem mesmo alimentar o cão.
Já foi dito por gente mais autorizada do que o cronista que aliás não tem autoridade alguma: no Brasil, a campanha eleitoral começa no dia seguinte ao da posse do novo presidente. Em outros países também deve ser assim mas tendemos ao exagero e ao assanhamento. Noel Rosa diria: coisas nossas.
Antonio Oliveira Santos foi homenageado pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro com a concessão da sua maior láurea, a Medalha Tiradentes. Uma bonita e concorrida solenidade, presidida pelo deputado Jorge Picciani (PMDB), em que igualmente foram comemorados os primeiros 60 anos da Confederação Nacional do Comércio.
Claro, eu sabia que não ia durar muito. Há bastante tempo minha qualidade de vida tem sido de baixíssimo nível e, como se sabe, é impossível sobreviver hoje em dia sem cuidar da qualidade de vida. Do contrário, o sujeito morre depois de ler as seções de saúde dos jornais, tamanho é o terrorismo que fazem em relação à qualidade de vida. Devia haver um aviso nessas seções, advertindo que sua leitura contumaz leva a todo tipo de doença imaginável. Eu, apesar das exigências de minha atividade jornalística, procuro evitá-las, mas não adianta porque os efeitos delas se alastram como fogo em mato seco, a começar pela própria família do sofrente.
ANOS ATRÁS, VIVIA NO NORDESTE do Brasil um casal muito pobre, cuja única posse era uma galinha. Com muito esforço, economizando o máximo, conseguiam se sustentar vendendo os ovos que ela colocava.
As meninas de coletinhos de dinamite, que beijam os pais e explodem nos ônibus de Gaza, são comandadas por Bin Laden? Até onde o terrorismo é uma operação de guerrilha incessante e mundializada, fora dos grotões do mesmo comando e sua disciplina? Ou o que divisamos hoje é um gigantesco levante do inconsciente coletivo de nosso tempo, insubordinado com os preços do progresso a todo custo e a perda da alma de suas coletividades? Vamos ou não, afinal, entrar nas novas guerras de 100 anos, como prega o Salão Oval, diante da "cultura do medo", e de um mundo a perigo, de que as explosões de Madrid, ano passado, ou dos ônibus de Londres, nesses últimos meses, demonstram a permanência múltipla e generalizada? E como ignorar, nas montanhas do Paquistão o culto a Mohamed Ata, e a fotografia da sua passagem desafiante pelas roletas do aeroporto de Boston, a caminho da derrubada do World Trade Center?
"Num meio dia de Primavera / Tive um sonho como uma fotografia / Vi Jesus descer à terra. /... / Tinha fugido do céu". É assim que Fernando Pessoa começa o seu poema sobre o Menino Jesus, que convivia com ele na sua aldeia, correndo campos e colinas. Tinha fugido do céu. Lá tudo era muito solene e sempre havia o desejo de que ele se tornasse homem e o colocassem numa cruz com uma coroa de espinhos.
Reconheço: nas vésperas de mais um Natal em que se comemora o nascimento do fundador do cristianismo, é de mau gosto falar em Nero, considerado pela maioria dos historiadores cristãos o Anticristo previsto no Apocalipse. A desculpa que ouso apresentar é meio furada. Pretendo aproveitar o gancho (Nero) para, mais uma vez, expressar a falta de credibilidade da história, qualquer história, desde a universal, até a história miúda que estamos vivendo.
Dentre as expressões correntes no linguajar cotidiano, o que mais se destaca, impondo-se mesmo como lugar comum, é a certeza de que o tempo vai passando velozmente. Os comerciantes, dotados que são de uma astúcia sensibilíssima, hábil na captação das correntes que os interessam, anunciam os artigos de Natal a quatro meses das festas.