
A grande mosca
[2]Minha opinião pessoal não conta, nem por isso dispenso-me de expressá-la. Não aprecio o jornalismo dito investigativo, que está em moda e provoca desenfreada concorrência entre jornais, revistas, rádios e TVs.
Minha opinião pessoal não conta, nem por isso dispenso-me de expressá-la. Não aprecio o jornalismo dito investigativo, que está em moda e provoca desenfreada concorrência entre jornais, revistas, rádios e TVs.
Quinta-feira foi o dia escolhido pelo terror para matar inocentes e espalhar o medo em toda a população de Londres. O balanço desse banditismo infame foram trinta e sete mortos e mais de setecentos feridos, muitos deles em estado grave e os autores são todos réprobos, sobretudo por não reclamarem o que pretendem com seu ato hediondo.
A pouco menos de uma hora de Paris, numa região paradisíaca, é possível encontrar um dos maiores santuários floridos do mundo. Em Giverny viveu o pintor Claude Monet (1840-1926), o maior representante do que se convencionou chamar de escola impressionista. Atacado pela catarata e sem coragem para se operar, utilizou os jardins da sua casa como inspiração para quadros que ganharam admiração internacional.
É por essas e outras que este país não vai para a frente. Como vocês viram, se me leram na semana passada, fiz um valente esforço de reportagem para desistir de minha participação no complô da direita e das elites para alijar o presidente Lula do poder. Bem verdade que tenho reiterado minha oposição decidida a essa conversa de “fora, Lula”, mas vivem repetindo que, nas entrelinhas, eu quero dizer o contrário e aí resisto aos entrelinhistas com a bravura possível e sempre confirmo minha postura de que ele é o presidente legitimamente eleito e, portanto, a não ser dentro dos limites estritos da ordem jurídi-ca, não pode ser objeto de campanhas desse tipo. Isso, contudo, não impede, por se tratar de atitude completamente diversa, que eu fale mal do governo, também dentro dos limites da ordem jurídica, que consagra um direito com o qual todos nascemos e não é dádiva de ninguém, ou seja, a liberdade de pensar e expressar. Ou então de manifestar a opinião pela qual nos pagam, prática pelo visto consagrada, ao menos consuetudinariamente, na vida pública pátria.
DESDE QUE LI “O PODER DO MITO”, NA verdade uma longa entrevista com o jornalista Bill Moyers, passei a comprar e devorar todos os livros escritos por Joseph Campbell (1904-1987). Lembro-me de ficar muito impressionado com uma de suas respostas:
Nos tempos que correm, todos se dizem democratas, da boca para fora todos clamam pela ética. Nunca uma sociedade foi tão ética e perfeita como a nossa. Tão perfeita que fica indignada quando estoura um escândalo envolvendo o Congresso e um dos partidos políticos, justamente o que mais encheu a boca com a ética.
Após a catástrofe dos plebiscitos de França e Holanda, os estrategistas da União Européia poderiam perguntar-se da indagação que, retrospectivamente, Maquiavel lhes faria. Por que a insistência na consulta popular, para levar adiante a Carta, e não a simples ratificação pelos Parlamentos nacionais? Não foi outra a solução que já deu pelo “sim” em todos os países que a acolheram, como Alemanha, Itália e Bélgica. Não estava na perspectiva do grande avanço da conquista da Carta o desacerto de agora entre a sensibilidade dos governos e a retranca de uma opinião pública ainda mal preparada para a modernidade democrática que representa o apelo crescente aos plebiscitos.
Os mais recentes encontros do ano França-Brasil concentraram-se na troca da experiência das nossas cabeças: tanto a da universidade, como a literária. É o que proporcionou, de início, a presença na Academia Francesa, de dezesseis membros da ABL, respondendo a um intercâmbio começado pela vinda ao Rio de Janeiro, no Centenário da Casa de Machado de Assis, dos Secretários Perpétuos, Maurice Druon e Hél×ne Carr×re d"Encausse, bem como de Marc Fumaroli e Hector Bianchotti. "Sous la coupole" agora os donos da casa foram saudados por Ivan Junqueira e José Sarney. Relembraram-se as vinhetas dos primórdios da nossa colonização, pelos sucessivos empenhos, finalmente abortados, da França Antártica, na Baía de Guanabara, e da Equinoxial, quando Lavardi×re imprimiu à capital do Maranhão o nome de São Luís, o Rei nos altares.
Cada ser humano é um testemunho do tempo. É um testemunho participante das transformações que ocorreram durante a vida, que vão do corpo ao ritual da morte, passando pelo cotidiano dos costumes, hábitos, modos e seduções.
São pouquíssimos os consensos formados em nossa vida pública. Um deles foi obtido agora, com a crise que o governo atravessa. É a necessidade da reforma política, que gerou e explodiu no escândalo do "mensalão". Mesmo que se descontem os exageros das acusações do deputado Roberto Jefferson, por mais que o desqualifiquem, todos sabemos que as campanhas eleitorais e a existência física dos próprios partidos são custeadas com dinheiro arrancado das estatais, de bancos e empresários.
Lembramo-nos, ainda, da crise do petróleo decretada pela Opep há mais ou menos trinta anos. Os potentados árabes, os iranianos, que haviam deposto o Xá, os iraquianos que haviam deposto um rei, pela mão assassina de Saddam Hussein e outros militares renegados e conspiradores, subiram o preço do barril do bruto de 2,5 dólares para l2 dólares.
Desconfio das coisas muito repetidas, dos slogans e gritos de guerra: "Todo o poder ao povo!". "Povo unido jamais será vencido!". "Tortura nunca mais!". "Um, dois, três, corruptos no xadrez!" (Este último ainda não entrou em circulação, mas não custa esperar).
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou à imprensa que Lula não deve concorrer ao segundo mandato.
Durante 56 anos, Jorge Amado foi meu marido e meu mestre. O que sei com ele aprendi. Juntos, corremos mundos, percorremos os mais distantes países, os mais belos e estranhos.
Uma das angústias do jornalismo é a inevitabilidade das generalizações. Impossível deixar de cometê-las num texto curto, apressado e genérico como são as crônicas publicadas neste espaço.
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