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Antonio Carlos Secchin fala das "andanças" de Ferreira Gullar

 

O Acadêmico Antonio Carlos Secchin abre o ciclo “Literatura e Política” na próxima terça-feira, 2 de setembro, às 16h, com a palestra “Política e paixão: andanças e mudanças de Gullar”, com coordenação do Acadêmico Antônio Torres. A entrada é franca e as inscrições podem ser feitas pelo link: https://www.even3.com.br/politica-e-paixao-andancas-e-mudancas-de-gullar-616618/

Segundo Secchin, ele vai esmiuçar algumas andanças de Gullar: viagens no tempo e no espaço. Viagens para a infância em São Luís. “Para o Rio de Janeiro e para países onde viveu exilado. O lirismo amoroso e o engajamento político no conjunto de sua obra.”

José de Ribamar Ferreira, ou Ferreira Gullar, nasceu no Maranhão em 1930. Filho de família de classe média – o pai era comerciante, com 10 filhos para criar. Começou aprendendo a ler com uma professora que dava aulas na sala de sua casa para os filhos dos vizinhos. No ginásio, teve que trocar a escola particular pela pública porque o pai não tinha dinheiro para pagar. Acabou aprendendo marcenaria, alfaiataria, sapataria, funilaria, mas não gostava de nada. Acabou poeta.

Para lutar contra o golpe militar, entrou para o Partido Comunista, foi preso e teve que se exilar. Foi para Moscou, depois Chile, Peru e Argentina, onde escreveu o Poema Sujo.

Em seu discurso em homenagem a Ferreira Gullar na cerimônia de comemoração dos 128 anos da ABL, Secchin disse que “a poesia de Gullar desenvolve um pensamento que não oculta, antes, convoca, a ostensividade da matéria, em todas as suas dimensões. Versos banhados em luz, especial a das manhãs maranhenses. Versos atravessados pelos ruídos de risos abastecidos no sabor de peras e bananas, aconchegados na epiderme feminina, embriagados pelo odor dos jasmins. Em nossa poesia, Gullar é quem mais se destaca numa linhagem que erotiza o corpo do mundo. Sem hierarquia, entre manifestações menos ou mais nobres. Não se pense, porém, que tal procedimento conduza a uma visão unicamente celebratória, otimista da existência. Zonas de sombra infiltram estranhezas e abrem campo para uma espécie de contra voz. Se Gullar pensa com o corpo, pois dele, corpo, provém, do contato com os outros, a fonte do prazer e da alegria, é igualmente no corpo que se inscreve a inquietação da finitude. Dai o poeta inventar um duplo, que é mais Gullar do que eu; um duplo, que pela criação, é livre da morte. Nesta poesia de buscas, alegrias e decepções ecoa uma nota subterrânea e renitente. O homem é condenado à sua arbitrária individualidade. Só lhe resta inventar, por meio da arte, outras ordenações ou desordenações do mundo, em que a morte seja vencida, os encontros sejam possíveis e as coisas enfim ganhem algum sentido. Poesia admirável pela inquietação e pela ampla gama de recurso eu tanto incide na nota pessoal do amor e da solidão quanto se regue na defesa coletiva de valores éticos universais, através de sua muralha luminosa de palavras.”

26/08/2025