Principalmente a índole de cada uma delas. Sozinhas, se lançadas assim, ou contaminadas por outras. Nenhuma palavra é cativa de um sentido único. Seria fazê-las vítimas da maior de todas as pobrezas”.
Foi assim, com um soco na boca do estômago, que o dia amanheceu nesta caverna de livros velhos, com a reaparição de JLM que andava em silêncio. Pelos livros que sugere na sua mensagem, andou mergulhado em grandes e esquisitas leituras. De uma delas, do ensaio sobre a Hipocrisia, de Nadia Urbinati, da Colúmbia University, nos EUA, retirou esta citação: “A mentira é voraz, tende a absorver a hipocrisia em sua lógica…”. Seria a hipocrisia, então, JLM, mais nobre do que a mentira?
Pelo que noto, desde o tempo desta Cena no Diário de Natal, o traço forte da personalidade de JLM é ser questionador. Não tem olhos e ouvidos para as tais verdades absolutas, como profetizam os discípulos mais radicais da pós-verdade. Ele ironiza essas modernidades e que chama de “solfejos do pedantismo universitário”: “A vida acadêmica não abre a janela para saber o que passa na calçada. Ao contrário do saber científico, o saber humanístico emudeceu. Não grita em nome da sociedade”.
Voltando à sua exegese sobre a hipocrisia, JLM escreve que concorda com Urbinati quando a professora de ciência política cita Maquiavel: “Tem razão quando afirma que é difícil ser totalmente hipócrita, como o Príncipe, de Maquiavel”. E acrescenta: “Urbinati chega até a encontrar virtudes na hipocrisia, deixando a mentira na sua velha vulgaridade, quando não piora ao cair na miséria de suas diluições, se não passam de intrigas, fofocas, mexericos, o velho ti-ti-ti dos lustrosos salões sociais”.
O dia, então, fica assim, Senhor Redator. Varado pelas afirmações e reticências de JLM no seu jeito de ser. Na mesma manhã, e posto que as manhãs, diante desses morros, andam primaveris – nos amarelos que ardem nos ipês e nos roxos que rumorejam nas sucupiras em flor – acrescento, por dever de encantamento, a frase com a qual JLM encerra sua mensagem, depois de mirar o jeito do mundo andar: “Posso vir da senzala, mas tenho a liberdade de escolher a minha casa grande”. Era só.
PALCO
CLARO – O senador Rogério Marinho foi claro. Por isso descarta a senadora Zenaide Maia: a chapa dos seus sonhos é disputar o governo ao lado de Styvenson Valentim e Álvaro Dias para o Senado.
MAS – Ele também deve saber, pela experiência política, que Zenaide Maia pode ser a única grande zebra na escolha do segundo voto. Daí preferir chapa forte para o Senado. Busca o voto bem fechado.
LUTA – A luta nos bastidores do processo que pede cassação do mandato da vereadora Brisa Bracchi, pelo que não é revelado, vai entrar para o almanaque das maquinações que o poder sabe engendrar.
PRIMOR – Na volta aos leitores, Cosac lança nova e belíssima edição do ‘Decameron’, de Giovanni Bocaccio. Encadernada, com uma introdução de Maurício Santana e as ilustrações de Alex Cerveny.
DATA – Márcia Maia quer marcar os 25 anos da agência ‘Desenvolve RN’, aquela que nasceu com o nome de ‘Agência de Fomento’. E vai mostrar os serviços prestados ao longo de todo esse tempo.
BRILHO – A poesia de Zila Mamede vai ganhar um belo texto na Quatro Cinco Um, uma das mais credenciadas publicações literárias do país e assinado pelo escritor e crítico literário Octávio Santiago.
POESIA – Fragmento, quase perdido de vista, de uma crônica de Carlos Heitor Cony, como o pedaço de um verso antigo encontrado no chão: “E nossos olhos se abriram e vimos que estávamos vestidos”.
PERIGO – De Nino, filósofo melancólico do Beco da Lama, entre os mistérios da riqueza e a pobreza, olhando as ruas: “O dinheiro é uma invenção que consegue ser a melhor e a pior coisa do mundo”.
CAMARIM
SAÚDE? – É certo que é bom ser sereno nas críticas, mas elogiar a ação do governo Fátima Bezerra no dever para com a sociedade seria passar panos mornos. Se o elogio cai na miséria da bajulação, então, a primeira vítima é o próprio governo. E a grande vítima, a maior, é a população mais carente.
ALIÁS – Numa coisa o governo e a prefeitura disputam o lugar mais alto do podium: a total ausência de política cultural. Os dirigentes das instituições estão confortáveis nas suas poltronas, mas a cultura foi relegada de vez. Só as ações populistas e assistenciais encantam nossos governantes. Nada mais.
VITRINES – Basta olhar o Memorial Câmara Cascudo fechado, homenagem ao maior intelectual do Estado. A decadência da Biblioteca Câmara Cascudo, sem atualização do seu acervo para estudantes e leitores. O instituto que preserva sua obra sem apoio do governo. E as instituições culturais caladas.
Matéria na íntegra: https://tribunadonorte.com.br/colunas/a-alma-das-palavras/
25/11/2025