Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Noticias > ABL na mídia - Estado de Minas - Fliparacatu começa hoje e tem homenagem a Ana Maria Gonçalves

ABL na mídia - Estado de Minas - Fliparacatu começa hoje e tem homenagem a Ana Maria Gonçalves

 

A escritora Ana Maria Gonçalves tem vivido o melhor momento da carreira. Em 2023, foi a homenageada da Bienal do Livro do Rio de Janeiro; em 2024, viu seu romance “Um defeito de cor” virar enredo da Portela – 24 horas depois do desfile, o livro já estava no topo da lista dos mais vendidos da Amazon, e a editora Record anunciou a impressão de novos exemplares. Em julho deste ano, tornou-se imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), sendo a primeira mulher negra a integrar a instituição.

“Eu nunca tinha parado para fazer essa cronologia”, diz a autora mineira, em chamada de vídeo feita de Paracatu, no Noroeste do estado. Ela é a homenageada da terceira edição do Festival Literário Internacional de Paracatu (Fliparacatu), que começa nesta quarta-feira (27/8) e segue até domingo.

“Ainda não consegui digerir completamente o que foi aquele carnaval da Portela – ter um samba para sempre chamado ‘Um defeito de cor’, e justamente nessa categoria, que considero ser a marca brasileira no mundo: o samba, a música. Eu não escrevo em busca desse reconhecimento, e sim para colocar a literatura em um lugar onde ela alcance cada vez mais pessoas”, diz.

Para isso, ela afirma, eventos literários são fundamentais, por configurarem-se como espaços de debate sobre livros e literatura.

Desumanização

Na edição deste ano, a Fliparacatu propõe refletir sobre os rumos da humanidade em um mundo atravessado por crises ambientais, políticas e simbólicas. Sob o tema “Literatura, encruzilhada e a desumanização”, o festival apresenta o campo literário como espaço de resistência, de criação de vínculos diante da desumanização. O termo, aliás, remete a Valter Hugo Mãe, que estará presente para falar sobre seu romance “A desumanização” (2013).

A programação começa com mesa-redonda reunindo Alexandre de Oliveira Gama, Kassius Kennedy, Murilo Caldas, Daniela Prado e Adriles Ulhoa. Na sequência, os curadores Afonso Borges, Bianca Santana, Jeferson Tenório, Sérgio Abranches e Leo Cunha darão um panorama desta edição.

Ana Maria Gonçalves se reúne, em seguida, com Bianca Santana e Marcelino Freire para discutir o que a literatura recebe e transmite: vozes do passado que atravessam gerações, memórias individuais e coletivas que se tornam patrimônio cultural e linguístico. Com o nome de “Palavra-herança”, o debate sugere que o escritor não escreve apenas para si, mas dialoga com uma tradição que herdou – das histórias orais, ancestralidade, oralidade afro-brasileira e indígena, etc – e, ao mesmo tempo, reinterpreta esse legado para um novo público.

Razão para escrever

Isso não significa que ele não possa partir do interesse pessoal em algum tema ou história. “Escrevo para mim, sobre assuntos que me interessam e me tocam a ponto de eu querer sentar e passar anos lidando com aquele tema”, diz Ana Maria. “Contudo, não tenho controle sobre a recepção do livro. Por mais que eu escrevesse por pressão mercadológica, não saberia como o livro seria recebido, porque as experiências que as pessoas comunicam depois de ler são as mais diversas possíveis”, afirma.

Em relação a “Um defeito de cor”, isso acontece com frequência, a ponto de a própria autora se perguntar se, de fato, escreveu aquilo que os leitores citam. “Mas, se a pessoa leu, está lá, né? Eu posso ter escrito nas entrelinhas e, aí, ela vem com a experiência de leitora dela”, pondera.

A história é narrada em primeira pessoa por Kehinde, uma africana que chega ao Brasil escravizada, engravida e tem o primeiro filho vendido como escravo. Ela tenta encontrá-lo durante toda a vida e, já idosa, escreve sua história na expectativa de que ele encontre os manuscritos. “Das coisas mais bonitas e tocantes que me chegam são relatos de mães que perderam filhos, mas, a partir da leitura do livro, se acalmaram ou se confortaram um pouco”, conta a escritora.

Até domingo, a Fliparacatu terá também mesas com Morgana Kretzmann, Eliane Marques, Leo Cunha, Jamil Chade, Bernardo Mello Franco, Natalia Timerman, Míriam Leitão e Eugênio Bucci. Todos os debates serão transmitidos on-line pelo canal do YouTube do evento.

Também estão confirmadas a oficina de escrita com Zeca Camargo, a palestra cênico-literária “Para abrir outras janelas”, com Odilon Esteves, e a exposição “Ocupação”, do artista paraense Petchó Silveira, que aborda racismo, desigualdade social e ausência de representatividade negra.

FLIPARACATU

Desta quarta-feira (27/8) até domingo (31/8), no Centro Histórico da cidade. Entrada franca. Programação completa no site.

Matéria na íntegra: https://www.em.com.br/cultura/2025/08/7235258-fliparacatu-comeca-hoje-e-tem-homenagem-a-ana-maria-goncalves.html

27/08/2025