A jornalista e escritora Míriam Leitão tomou posse na Academia Brasileira de Letras, nesta sexta-feira, em uma cerimônia na sede da instituição no Centro do Rio. Décima segunda mulher a se tornar imortal, Miriam passa a ocupar a cadeira de número 7 da ABL, no lugar do cineasta Cacá Diegues, que morreu em fevereiro.
Diante de uma Academia lotada, Miriam foi conduzida ao centro do salão nobre por Rosiska Darcy de Oliveira, Fernanda Montenegro e Lilia Schwarcz. O discurso de recepção foi feito pelo poeta e acadêmico Antonio Carlos Secchin. Vestindo o fardão de imortal, a jornalista recebeu o colar de imortal das mãos de Ana Maria Machado e o diploma de Ruy Castro.
Em seu discurso de posse - de 22 páginas - Miriam perfilou seus 10 antecessores a ocupar a cadeira 7 - entre eles, Euclides da Cunha, Dinah Silveira Queiroz e Afonso Pena Júnior; lembrou a a história de sua família - e a luta dos pais para poderem estudar - a importância da defesa da democracia e o amor pelos livros que a acompanhou no período em que esteve presa durante a ditadura militar. Miriam parabenizou Ana Maria Gonçalves, primeira escritora negra eleita para a Academia, e também todas as outras 11 imortais; além de ressaltar a responsabilidade da instituição em contribuir para um futuro de menos desigualdades sociais.
“Somos as guardiãs e os guardiões de uma história, mas reconhecemos também que nova história vem sendo escrita a cada dia por pessoas de todos os recantos e origens. E o nome da nova ordem é inclusão. Da exclusão de mulheres, das pessoas negras, dos povos indígenas, tem sido feito o pior lado do Brasil, o mais doloroso, atrasado e perverso. Este é exatamente o momento em que se quebram barreiras, tetos de vidro, muros artificiais. Momento decisivo da História em que temos a chance, o privilégio e o dever de moldar a face do futuro. E ela só será brasileira se for como somos realmente. O povo dos muitos povos.”
Em entrevista a CBN, antes da cerimônia, Miriam comentou a emoção em entrar para a Academia.
“Olha, é tão emocionante, é um momento tão emocionante para mim, porque eu não sonhei com a academia, porque era um sonho que eu achava que estava acima das possibilidades. Eu sonhei com uma vida entre livros, e o jornalismo, comigo, que eu não abro mão, sou jornalista-raiz, ao mesmo tempo queria fazer uma carreira literária. Então, eu chego aqui hoje, eu olho os meus livros, junto com os livros dos grandes acadêmicos, junto com o Machado de Aziz, está aqui nessa biblioteca, né? Os livros dos acadêmicos estão aqui, meus também. Então, é um momento de muita emoção, muita realização”, disse.
A historiadora e imortal Lilia Schwarcz ressaltou a importância de mais uma mulher a integrar a ABL e deu as boas vindas a amiga.
“Então, acho que a Miriam vem aqui engrossar em muito esse lugar das mulheres, que é um lugar fundamental numa sociedade como a brasileira, que é uma sociedade que tem maioria feminina, mas eu penso que Miriam também vem engrossar com a visão crítica que ela tem de Brasil, esse lado de Miriam Interpret, Miriam Reporter e Miriam Escritora, uma escritora que interpela esse Brasil, que é a desigualdade. Então, ela é muito bem-vinda”, comemora.
O presidente da Academia, Merval Pereira, falou sobre as contribuições de Miriam para a literatura e o jornalismo.
“A Miriam é uma grande jornalista, a Academia tem a tradição de receber grandes jornalistas e, além do mais, ela é uma escritora de romance, de contos, livros infantis. É uma figura que merece estar entre nós e vai ajudar muito, porque ela é muito ativa”, afirmou.
Miriam Leitão foi eleita em abril, com 20 votos, superando o ex-senador Cristovam Buarque, que obteve 14.
Nascida em Caratinga, Minas Gerais, em 7 de abril de 1953, é filha de educadores e começou a carreira como jornalista no Espírito Santo. Miriam passou por Brasília e São Paulo até se estabelecer no Rio. Com mais de cinco décadas de atuação na imprensa, atualmente, é comentarista de política e economia na CBN, na TV Globo e na Globonews e colunista do Jornal O Globo.
Miriam já escreveu 16 livros, entre eles "Saga Brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda", de 2012, vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Reportagem e Livro do Ano de Não Ficção, e "Amazônia na encruzilhada: o poder da destruição e o tempo das possibilidades", de 2023, que rendeu a ela o Troféu Juca Pato de Intelectual em 2024.
Matéria na íntegra: https://cbn.globo.com/cultura/noticia/2025/08/08/jornalista-e-escritora-miriam-leitao-toma-posse-na-academia-brasileira-de-letras.ghtml
09/08/2025