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Artigos

  • Bush bis e o racha da vez

    Não se esperava viesse a candidatura Kerry morrer na praia, como a de Dukakis - quem se lembra dele? - o outro bostoniano que competiu com o primeiro Bush. Não se vai aceitar, é claro, este fracasso antecipado, mantendo-se uma última esperança nas arquibancadas de todas as periferias mundiais. Mas o inconformismo, por uma vez, com a prevista fatalidade de um Bush bis, é de um racha a prazo indefinido na opinião pública americana, sem arnicas ou sinapismos para curar a cisão de um país, refeito e convenientemente desmomoriado para os próximos quatro anos. Nem poderemos alimentar uma mudança dramática nessas últimas semanas. O desconforto inevitável é o do descolorido da reação de Kerry à queda de sua superioridade nítida de ainda dois meses. Não respondeu, à hora, a brutal demolição de imagem feita pelos adversários. Permitiu se cristalizasse o estereótipo de um candidato indeciso nas tarefas públicas, consoante seus antecedentes no Senado. Mas a opinião pública não concebe que um presidente não pode refletir sem parar para decidir quando puder.

  • D. Hélder e a nossa maturidade profética

    As comemorações de cinco anos do falecimento de D. Hélder Câmara, em Recife, dão-nos a envergadura desta presença na mais rica prospectiva para a Igreja brasileira. De saída, pela própria força do grupo reunido em torno do Centro Dom Hélder recém criado, do Centro de Estudos da Igreja da América Latina, no âmbito da Universidade Federal de Pernambuco.

  • Kerry entre a alternativa e a hegemonia

    Na campanha eleitoral americana, pela primeira vez, em fins de agosto, as pesquisas mostram Kerry à frente de Bush, no que era, ainda, o seu bastião de fiabilidade eleitoral. O democrata, numa opção de 47 contra 46%, é o comandante-e-chefe que passam a preferir os americanos, para o conflito continuado com o Al-Qaeda e o desfecho decisivo na guerra do Iraque. O mais importante é que esta mudança está associada a uma convicção ainda mais contundente quanto ao futuro do país. A invasão de Bagdá e a derrubada de Saddam não tornaram os Estados Unidos mais seguro, pensam 52% da população contra só 38%, a apoiar o propósito bélico de Bush.Ao mesmo tempo, a opinião pública americana repudia a tentativa de um grupo de militares da extrema direita, financiada por milionário texano, de contestar o heroísmo de Kerry durante o conflito do Vietnam. O tiro saiu pela culatra, levando um dos maiores baluartes republicanos, John Mcaint a denunciar a manobra. E o próprio Bush a reforçar o respeito ao senador de Massachusetts, confirmando a página de herói que escreveu no conflito asiático.

  • Justiça, pacto social e cláusula pétrea

    A decisão do Supremo Tribunal, de 18 de agosto, sobre a contribuição dos inativos para a Previdência explicita de maneira exemplar o que seja a prática da democracia profunda pela cultura petista hoje no poder. Lance a lance, cada voto respondeu à interrogação cidadã, de até onde o imperativo de mudança se compadece com a garantia dos direitos adquiridos, e sua consagração no atual Estado de Direito no país. Ou melhor: em que termos a exigência da Justiça pode ir além do pacto social solene da Carta e, nele, das suas cláusulas pétreas, que não comportam sequer emendas constitucionais?

  • O escritor Constâncio Alves

    Quando me elegi para a Academia cuidei em ir ali, ver sala por sala, tentar ouvir vozes, sentir os odores, tudo que é necessário a um conhecimento a se completar. Chegando à Casa, corri os olhos pelo painel dos acadêmicos. Estava lá a imagem de Constâncio Alves (1862-1933), um dos primeiros ocupantes da Cadeira 26.

  • Vôte, arreda, urucubaca!

    Lula começa a sair da onda de desencanto dos 500 dias. Marta emparelha com Serra no tira-teima que parece que serviu como decisivo para o plebiscito antecipado do governo, e agora chega o número chave para vencer-se as areias movediças da estabilidade econômico-financeira assentada na jugular do mítico superávit primário. Teríamos saído da dita inserção passiva na globalização nesses atuais 2 bilhões de saldo nas transações correntes, o maior resultado já ocorrido desde 47, quando começam os dados do IBGE. O sucesso estrondoso do setor de exportações nos empresta um saldo comercial de 24% este ano, quando o comércio mundial cresceu 2,5%. E não é bolha, como insinuou o ex-ministro Sayad, mas resultado para ficar, num impulso ao resto do país que aumenta as vendas internas.

  • Depois de Brizola e do populismo

    As entradas em campanha dos partidos para a eleição municipal só fizeram referendar a sensação clara da prática desaparição do populismo, tal como encarnado por Leonel Brizola frente às próximas urnas. Fica a marca enorme do herói, da personalidade de que não se poderá apartar toda luta pela redemocratização do País já marcada, nos seus pródomos, pela dificuldade de acesso de Jango à Presidência, quando da renúncia de Jânio. Todas as manifestações do choque nacional com a morte quase instantânea deste nosso vulto tutelar põem em causa a expressão objetiva, ponderável de sua herança. É como se Brizola tivesse sobrevivido ao que representasse a força de sua pregação e de seu poder de mobilizar uma esquerda brasileira. Isolou-se no correr do Governo Lula na primeira ruptura contundente com o Planalto, repetida no recado amargo e irredutível de seu artigo semanal, no canto de página de nossos periódicos.

  • O Iraque refém de Saddam

    Chegou atrasada à hora do julgamento a fotografia-chave de Saddam na entrada do tribunal: a do ex-presidente aguardando a retirada das correntes passadas pelas pernas, pela cintura estrangulada, e a travar-lhe os braços. Tratava-se, de saída, de opróbrio muito para além do castigo normal da imposição tão só das algemas - e abertas - durante toda a presença do acusado frente ao juiz. O lance esclarece mais do que toda a montanha de afirmações, ou dilúvio dos sites ou da ruminação de rua, o quanto se abre todo um novo estágio de afirmação do Iraque, após o começo da destranca do ferrolho americano. A volta à cena do ex-ditador é também da iniciativa para a discussão pública do pré e pós-invasão. O personagem-mor, pela sua estrita sobrevivência, agora agressiva, subverte os jogos feitos de um futuro exaustivamente determinado pelos Estados Unidos. O crescimento da guerrilha contra as forças americanas reforça-se no processo monstro, pela contradita à visão dos vencedores que passa agora pela decisão das novas autoridades, sem cortes, à mídia mundial.

  • O PTB e o clientelismo esclarecido

    Estes meados de 2004 vêm revelando características inéditas de extrema instabilidade, na definição dos cálculos políticos a longo prazo, a partir do próximo pleito municipal. Aí estão, de saída, estas variações do Ibope de, em menos de mês, um pulo de 10% de vantagem de Serra sobre Maluf e Marta, esta última já a perder do contendor clássico na Paulicéia. São subidas e descidas a ganhar já um efeito perverso no saber-se até onde a quebra da prefeita impacta o presidente. Ou de se a demora na arrancada do espetáculo, prometido pelo Governo, começa a derrubar as presunções tranqüilas de um ano atrás, quanto a um octonato petista. É possível que a dúvida crescente quanto ao pacto dos futuros alcaides com o homem do Planalto atrase-se ainda face ao espanto desses altos e baixos em São Paulo, vistos por tantos como o termômetro definitivo do sucesso de Lula.

  • Réquiem para um Senado rebelde

    Na reconfirmação dos 260 reais para o salário mínimo, a vitória do Governo acaba com as incertezas de uma possível rebelião do Congresso neste meados de 2004. Cercava-a a primeira queda séria da popularidade, baixada aos 56% depois da plataforma majestosa, dos quase 70% de aprovação continuada. Estes primeiros temores de queda, de qualquer forma, teriam como termômetro de fundo a perspectiva de reeleição de Marta Suplicy na Prefeitura, por excelência, dona do futuro do Governo diferente.

  • A espera e o fio de bigode

    A última reunião ministerial - que trocou a solenidade do Planalto pelo aconchego do Torto - quis trazer ao país o recado das mangas arregaçadas e do todo vapor, assentada a casa e antes da prova dos nove que representam as próximas eleições municipais. O presidente veio à melhor das rotinas, com um barco a velocidade segura, controlando as rotas financeiras, cobrando o desemperro dos gastos, saindo do jejum da transição e a mostrar que o PT não era o governo da forra da utopia e do facilitário social. Os créditos ganhos lá fora e o reconhecimento do presidente como a maior liderança hoje do velho mundo periférico atritam-se agora com o debate salvacionista, ou da tosquia da taxa de juros, desatenta aos impasses da globalização, e do continuarmos ainda um país de conjuntura mais do que de assunção decisiva de um projeto de mudança.

  • No funeral de Reagan, o epitáfio de Bush

    Chirac e Schroeder deixaram ostensivamente Washington antes do funeral-monumento de Reagan. De Gaulle, que compareceu às exéquias de Kennedy, de fausto análogo na capital do império, teria feito, sem dúvida, o mesmo. Impossível imaginar-se espetáculo mais apurado em todos os drinques de celebração da hegemonia, que a dessa herança ostensiva assumida por Bush, do imaginário que abriu o caminho às Star Wars , ao mercado absoluto e ao desenfreio da primeira e segunda guerras do Iraque - tal pai, tal filho, no Salão Oval.

  • A população de São Paulo

    Num estudo publicado no Digesto Econômico faz alguns anos - cito-o de memória, portanto não menciono o nome para não errar -o autor previa para o ano 2000, que já ficou para trás, a população de 200 milhões para o Brasil.

  • Aquele homem

    Saltei do carro e comecei a caminhar pela calçada. Um desconhecido vinha em sentido contrário, quando deu comigo fez cara de espanto, quase de estupor. Fosse outra a situação, eu lhe ofereceria um copo d'água, para lhe amenizar o susto. Dizem que um gole faz bem.Poderia também tomar satisfações, afinal, ainda que seja um fantasma, considero-me um fantasma inofensivo. Percebendo que eu também ficara espantado com a reação dele, explicou-se: "Você existe mesmo!"