
Opinião: Ano vai, ano vem
O sentimento mais profundo do homem é o desejo de imortalidade. Para alcançá-lo, construiu a esperança na imortalidade da alma.
O sentimento mais profundo do homem é o desejo de imortalidade. Para alcançá-lo, construiu a esperança na imortalidade da alma.
O Oriente Médio toma uma direção nunca esperada por nenhum dos planejadores da Guerra do Iraque. Até hoje ninguém sabe exatamente as motivações que levaram ao conflito. Bush justificou-as como a necessidade de uma guerra contra o terrorismo, a existência de armas de destruição em massa, químicas, atômicas ou seja lá o que fosse. Essa versão não resistiu dois meses e restou a de que era mesmo uma birra de família porque - expressão do presidente dos EUA - "Saddam quis matar papai". A doutrina Rumsfeld da guerra preventiva também ruiu por terra porque, se a versão da existência das armas não era verdadeira, a tal prevenção também não era.
Chávez proibiu Papai Noel de entrar na Venezuela. É o que dizem os jornais. O argumento é que se trata de um agente americano disfarçado num velhinho de barbas brancas e cara de bondoso para matar os costumes populares venezuelanos, tão bem descritos por Rómulo Gallegos em sua espetacular obra, na qual recordo as coplas de Cantaclaro e a saga de Doña Bárbara, la bonguera.
Na Pnix, em Atenas, os gregos reuniam a ecclêsia, os 6 mil que decidiam, no voto, o destino da cidade. A democracia era direta ou exercida pelo boulê, grupo de 500 escolhidos pela sorte. Não era, ainda, o que chamamos de democracia representativa, embora sem dúvida esta proporção de 1/12 dos cidadãos represente muito mais fielmente a cidade que os parlamentos atuais (um parlamentar para 200 mil a 600 mil cidadãos).
A humanidade deve a Kennedy e a Kruchev a sua sobrevivência, pois se fosse Stalin e Bush que tivessem, naqueles dias da crise dos mísseis, os botões por apertar, talvez não estivéssemos aqui. O risco de uma catástrofe definitiva, enquanto houver uma ogiva nuclear, é inaceitável.
Em 1998, na minha penúltima eleição para senador, conheci no Amapá uma repórter e apresentadora de televisão simpática, talentosa e inteligente. Era do Maranhão e fora contratada por uma equipe de TV para a campanha eleitoral do Amapá. Sorriso aberto, alegria sempre nos lábios. Era uma moça negra que transmitia aos telespectadores segurança e uma presença carinhosa. De grande coração, alegre, solidária.
É difícil cooptar um assunto em meio a tantos que circulam nas manchetes políticas e policiais. Você não vive o dilema de um escritor em busca de personagens, mas a necessidade de convencer um tema a que ele entre em seu artigo. Quase sempre, quando existem muitos, ele resiste.
Em tempos de eleição duas coisas são impossíveis: lazer e meditação. Quanto ao primeiro, nem pensar. Todos os momentos são tomados e às vezes os organizadores de agenda fixam vários eventos na mesma hora: às oito horas, três cafés em lugares diferentes, para discutir coisas diferentes. E aí entram taxistas com enfermeiros, pequenas empresas com agentes de saúde. A tudo se tem que estar atento. Isto sem perder a paciência e atrasar. Mas políticos não têm horários. Horário foi feito para organizar a vida da gente e dos outros, mas a minha experiência é que o atrasar faz parte de nossa cultura política. Eu fico angustiado. Sou homem de cumprir horário, mas quase sempre recebo a desculpa: "O pessoal não chegou. O senhor chegou na hora…".
Muitas queixas se ouvem, muitas observações se fazem e muitas críticas nascem. Alguns políticos e outros assemelhados lamentam que as modificações da lei eleitoral tenham tirado o charme das eleições. Sentem falta dos grandes shows, dos brindes, dos outdoors, e reclamam que o clima de eleição (ou festa) desapareceu. Tudo parece frio e às vezes nem se sabe se existe eleição.
No Brasil, nunca a política externa fez parte da política interna. As relações internacionais estão, na maioria das vezes, ao nível de relações diplomáticas, bilaterais e quando muito uma quermesse de reuniões em que predominam os comunicados finais.
João Francisco Lisboa escreveu um clássico sobre a evolução do processo eleitoral: Eleições na Antiguidade.
Um dos meus amores são os sonetos e as redondilhas de Camões. Transformou-se de encantamento em xodó e deste em hábito. De quando em vez ou de vez em vez, para acabar com as formas de cansaço de cair no sono, no Luís Vaz, o Tira-Trintas (apelido do poeta que por causa desse colérico gênio deve ter perdido um olho) recolho a calmaria necessária que a poesia pede ao seu leitor. Não quero dizer com isso que esqueci ou estou traindo o Vieira, nas madrugadas de insônia, lido ou escutado nos Sermões gravados, como o Dos Peixes, na voz de Ary dos Santos.
O julgamento da política é cada vez mais cruel. A vitória da democracia liberal e da economia de mercado, considerados os objetivos máximos do desenvolvimento político ocidental, levou filósofos e economistas de Chicago a considerar termos chegado ao fim da História.
A Câmara de Representantes (de deputados) dos Estados Unidos aprovou uma moção estranha e preocupante, que pede a criação de uma força tarefa, da qual participariam os EUA, na Tríplice Fronteira Brasil, Paraguai e Argentina. Há muito se especula que ali está um possível braço da Al Qaeda, por mais que todas as vigilâncias e realidades apontem para nada existir.
Hoje é dia de muitos assuntos. Um só não cabe, seria longo demais. Como dizia Vieira, "não tenho tempo de ser breve". Começo pelo Roberto Rodrigues e o quanto fiquei triste com a sua saída do ministério. Disse que seus motivos não eram nem políticos nem pessoais. Jânio Quadros definiu esse quadro de segredo como "forças ocultas". Mas vai fazer falta.Leio a celeuma criada com a usina de Belo Monte, no Pará, que deverá ser a maior hidrelétrica brasileira (Itaipu é de dois países, Brasil e Paraguai), com 11.000 megawatts. Ninguém quer que seja construída, tem ONGs e vespeiro de professores. Pensei que fosse pelo nome. Era Cararaô e passou a ser Belo Monte, o verdadeiro nome de Canudos. Esta guerra, sim, jamais devia ter ocorrido. Trocaram o nome ninguém sabe por quê.