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ABL na mídia - Veja - “Invertida”, com Ruy Castro: “Como alcoólatra, não ficava de porre”

 

Os livros de Ruy Castro, “carioca de Minas Gerais”, são importantes para quem quer conhecer o Rio, por uma visão apaixonada, aceitando, alguns de seus defeitos — mais ou menos como a pessoa amada — rsrsrsrs! Imortal da ABL desde 2022, ele é o homenageado da Bienal do Livro do Rio, até 22 de junho, no Riocentro, ano em que a cidade recebe o título de Capital Mundial do Livro pela Unesco.

No evento, Ruy lança “Trincheira Tropical” (Cia das Letras), sobre o impacto da Segunda Guerra Mundial no Rio, na década de 1935 a 1945, e conversa com a historiadora Isabel Lustosa. O autor também vai participar de um painel sobre futebol, outra paixão, principalmente pelo Flamengo, conversando com o jornalista tricolor Pedro Bial, o humorista botafoguense Hélio de la Peña e o jornalista vascaíno João Carlos Éboli — segundo consta, política, religião e futebol não se discute, mas só pra quem não tem argumentos, nem história! Mais ainda para quem em vez de colágeno, pensa em inteligência! Um dos maiores cronistas do país, celebrado também por grandes biografias, faz o que quer com a palavra, as usa tão bem, que elas parecem amá-lo. E sem jamais perder o humor, como nessa entrevista.

UMA LOUCURA: Ter largado todos os jornais e revistas onde trabalhava em 1988, para tentar contar a história da bossa nova num livro chamado “Chega de saudade”. Em 1990, o livro saiu. E como consegui? Porque eu não sabia que era impossível.

UMA ROUBADA: Ter feito o exame de admissão ao Colégio Militar em 1959, por exigência do meu pai. Graças a Deus, fui reprovado!

UMA IDEIA FIXA: Trabalhar na imprensa; nunca tive outra. Decidi isso aos 5 anos, quando comecei a ler jornais, e nunca mais pensei em outra coisa. Aos 19 já era profissional. A partir dali, fiz de tudo: fui repórter, redator, chefe disso ou daquilo, editor, diretor, colunista, o que você quiser. Só faltei morder o cachorro. Os livros vieram muito mais tarde, aos 40, e, mesmo assim, por acaso.

UM PORRE: Nenhum. Como alcoólatra, não ficava de porre e não tinha ressaca. Mas dois litros de vodca por dia não fazem bem à saúde. Pouco antes de morrer, deixei que me internassem numa clínica para dependentes químicos, da qual saí um mês depois, decidido a tentar nunca mais beber. Estou tentando até hoje — e conseguindo.

UMA FRUSTRAÇÃO: Não ter namorado a Kim Novak quando a entrevistei em 1967.

UM APAGÃO: Os quatro ou cinco anos em que bebi realmente pra valer, de 1982 a l987. Me lembro de muito pouca coisa daquela época. Uma vaga lembrança de que estava trabalhando em São Paulo, mas não tenho certeza.

UMA SÍNDROME: A síndrome do pentelho fantasma; no meio da noite, ele aparece na sua língua. Você tenta se livrar dele, mas é difícil. Devolvê-lo ao poro original da moça é muito difícil no escurinho. Jogá-lo fora da cama, no chão, muito arriscado — ele sempre volta. Única solução: engolir o pentelho.

UM MEDO: Não poder respirar. Sou de uma família de asmáticos.

UM DEFEITO: Isso aí, só perguntando ao pessoal.

UM DESPRAZER: Vários: comprar roupa, comer pizza, fazer ginástica. 

UM INSUCESSO: Celular. Quando apareceu, esnobei; depois, ele evoluiu e continuei esnobando. Hoje, é quase impossível viver sem ele, mas já estou muito velho para aprender a escrever com os polegares.

UM IMPULSO: Muitos. Já me joguei no escuro diversas vezes — mudando de país, largando empregos, comendo buchada de bode —, mas sempre caí de pé e saí andando.

UMA PARANOIA: Sonhar que estou pelado no meio da rua, que acordei e constatei que não era sonho, mas é claro que era, o sonho só estava continuando. 

Matéria na íntegra: https://vejario.abril.com.br/coluna/lu-lacerda/invertida-com-ruy-castro-tenho-a-sindrome-do-pentelho-invisivel/

16/06/2025