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ABL na mídia - Jornal do Brasil - É o pau é a pedra é o fim do caminho

 

Será mesmo o fim do caminho? O Brasil não passará como águas de março.

Não somos um aliado qualquer. Nossas relações com os Estados Unidos foram cimentadas desde Rio-Branco como uma "unwritten alliance”. Trump não é os Estados Unidos da América. Bolsonaro não é o Brasil.

Longe de estarmos “no fim do caminho”, fomos um aliado “ombro a ombro” com as tropas americanas. Na Itália, até hoje - sei porque tive a honra de ser Embaixador do Brasil no país, onde minha avó materna nasceu -, os habitantes de Pistóia e cidades adjacentes recordam o que seus pais e avós contavam dos pracinhas brasileiros. Solidários. Capazes de dividir comida com crianças famintas. Não é um conto de fadas. Mas é um conto muito diferente do que se pode ler no tristíssimo livro de Curzio Malaparte, “A Pele”.

Somos, como os Estados Unidos da América, fundadores das Nações Unidas, signatários originais da Carta constitutiva de um novo mundo sonhado após o fim da Segunda Guerra Mundial. Não somos membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas por uma - sejamos suaves - visão levemente aristocrática de um dos três grandes vitoriosos da Grande Guerra.

E - importante lembrar - a Carta das Nações Unidas não se preocupa só com a paz mundial, mas também com a justiça social, os direitos humanos, a soberania dos Estados, a solução pacífica de controvérsias, a não-ingerência nos assuntos internos dos países signatários, mas não apenas neles.

A simples recordação destes princípios fundamentais da convivência internacional revela a monstruosidade dos últimos ataques de Trump à Democracia brasileira, que em muito ultrapassam as já desgastadas acusações de natureza comercial, em si igualmente desvairadas, sem qualquer pé na realidade e em confronto com os compromissos não só da Carta das Nações Unidas, mas também dos assumidos na OMC e no GATT (cláusula de nação mais favorecida).

Trump lembra o troglodita que comprou a cobertura do edifício, rasgou a Convenção do condomínio, ocupou dez vagas na garagem, fez dos elevadores sociais privativos da cobertura, contratou o Jararaca ratinho e sua "big band" para animar as festas diárias no terraço de seu apartamento e entrou na delegacia do bairro com um pedido de intervenção contra o morador do segundo andar por não suportar-lhe seu pacífico ronco noturno.

E manda pau e pedra como se o Brasil fosse a Geni do Chico ou o fim do caminho do Tom. A cassação dos vistos, provavelmente diplomáticos, do Ministro Alexandre de Moraes e seus “aliados", é inominável, além de ridícula, e nos fazer lembrar Charlie Chaplin em seu inesquecível “o Grande ditador, em que Hitler brincava com o mapa-mundi como se fosse uma enorme bola de futebol.

Trump não reconhece que suas exigências são atentatórias aos princípios da Carta das Nações Unidas. Porém, igualmente, não podemos nos tornar cúmplices de aceitar, ainda que como vítimas, o desmoronamento da ordem internacional, da solução pacífica das controvérsias e dos princípios elementares do Direito Internacional Público, do “Pacta sunt Servanda” e tantos outros instrumentos que distinguem o homem moderno do pitecantropos bestial.

Se somos, como os Estados Unidos da América, signatários originais da Carta das Nações Unidas, somos, igualmente, seus defensores. Justo será, portanto, que tanto o Brasil quanto os demais signatários da Carta que o desejem busquem pela via do esclarecimento judicial soberano o saneamento dos graves inconvenientes para a ordem internacional que estamos a ver proliferar diariamente.

Talvez o órgão internacional ideal para resolver esta questão seja a Corte Internacional de Haia. Porém, como não estou certo de que os Estados Unidos da América, por razões diversas, aceitem a competência da Corte, talvez o arbitramento por um tribunal ad-hoc, composto por Estados signatários da Carta das Nações Unidas, possa ser a solução.

Lanço aqui a ideia com a esperança de que possa ser objeto de conversações entre as partes interessadas e que, dentre outras consequências, tenha efeito suspensivo sobre as diversas ameaças de sanções econômicas, ou não, às partes diretamente ameaçadas.

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EM TEMPO: Tive a honra de participar, juntamente com João Moreira Salles, Ana Maria Gonçalves, Eduardo Giannetti, Merval Pereira e Rosiska Darcy de Oliveira, com a mediação de Cristina Aragão, do debate “A face assustadora do Autoritarismo”, por ocasião do lançamento da Revista Brasileira num. 123, na última quinta-feira, na Livraria da Travessa no Leblon. A Revista Brasileira, vinculada à Academia Brasileira de Letras, enriqueceu em muito o panorama cultural brasileiro pelos temas que vem abordando. Editada por Rosiska Darcy de Oliveira, a revista, hoje vendida em boas livrarias, se impõe a cada número, com os interessados em conhecer os principais problemas de nossa atualidade. Permito-me assinalar três destaques do encontro da última quinta-feira; o primeiro, a profunda análise sobre a AMAZÔNIA feita por João Moreira Salles, que a mim muito impressionou e que deveria ser conhecida por todos. A intervenção pública da acadêmica Ana Maria Gonçalves, depois de sua eleição para a Academia Brasileira de Letras. Primeira mulher negra eleita para a Academia, Ana Maria vem reafirmar a gestão equilibrada e progressista de Merval Pereira como presidente da Academia. Giannetti, como sempre, uma mente brilhante.

2. Para quem ainda não viu, recomendo enfaticamente o documentário “Apocalipse nos Trópicos”, de Petra Costa. Irretocável como cinema de grande fotografia de um país e de análise de seu povo, o documentário tem um momento seminal para o qual ele mesmo imprime particular importância, quando em determinado momento repete, para que a todos não escape, uma cena determinante de um determinado comício político. Vale a pena rever.

3. Aos incautos, lembro: Haja o que houver, o sol sempre se põe e a noite sempre amanhece.

Matéria na íntegra: https://www.jb.com.br/brasil/opiniao/artigos/2025/07/1056252-e-o-pau-e-a-pedra-e-o-fim-do-caminho.html

 

21/07/2025