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ABL na mídia - Folha de Pernambuco - Dono da maior biblioteca de Shakespeare do país toma posse na ABL nesta sexta-feira (11)

 

O advogado e escritor José Roberto de Castro Neves ingressa nesta sexta-feira (11) na Academia Brasileira de Letras (ABL) unindo o saber jurídico e o literário.

Autor de livros que se debruçam no mundo do Direito pelo viés cultural, em especial pela obra do poeta e dramaturgo William Shakespeare, ele toma posse em cerimônia no Petit Trianon, no Centro do Rio, e ocupará a cadeira 26 da instituição, que já foi de Paulo Barreto (João do Rio), Constâncio Alves, Ribeiro Couto, Gilberto Amado e Mauro Mota, antes de Marcos Vilaça, morto em março.

O carioca de 54 anos mantém em sua casa no Jardim Botânico, na Zona Sul carioca, a maior biblioteca shakesperiana do país, com cerca de cinco mil títulos. O acervo, que inclui relíquias com mais de três séculos, não reúne apenas as obras do autor de “Hamlet”, mas edições críticas de outros autores.

— Sou apaixonado por literatura desde a infância e, nessa história de leitura, acabei esbarrando em Shakespeare em algum momento da vida — lembra o escritor, sócio da Ferro, Castro Neves, Daltro & Gomide Advogados, e que, além de Doutor em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é mestre pela Universidade de Cambridge, Inglaterra. — Não tenho uma peça preferida, varia muito de acordo com o momento. Atualmente eu diria que é “Romeu e Julieta”. Gosto muito das comédias, mas as tragédias são mais profundas.

Raridades do século XVIII

Para Castro Neves, o Santo Graal dos colecionadores seria o Primeiro Fólio de Shakespeare, uma coletânea publicada originalmente em 1623 com 36 peças do dramaturgo, que poderiam ter se perdido sem esse registro. Só existem 234 no mundo, guardados em instituições e algumas poucas coleções privadas (em 2021, a Christie’s realizou um leilão de um exemplar por quase US$ 10 milhões).

— É uma coisa inatingível — diz o advogado, que guarda com orgulho um fac-símile bastante raro deste Folio, datado de 1910.

A biblioteca guarda muitas outras surpresas. Do século XVIII, surgem edições do irlandês Edmond Malone, um dos primeiros estudiosos do bardo; um tratado de ornitologia de James Edmund Harting intitulado “The birds in Shakespeare”; as memórias do famoso ator shakespeariano David Garrick escritas por Thomas Davis; uma edição de 1777 do “Essay on the writings and genius of Shakespeare”, de Elizabeth Montagu, que defende o dramaturgo das críticas de Voltaire.

Castro Neves adquiriu parte de sua coleção da crítica de teatro do GLOBO e tradutora Barbara Heliodora, morta em 2015, e maior autoridade brasileira no assunto. Ainda que o acervo da jornalista seja em sua maior parte abastecida por obras de críticos contemporâneos, há algumas relíquias mais antigas, como uma edição da “Imperial Shakespeare”, de Charles Knight, lançadas entre 1873 e 1876.

De tribunais aos Beatles

Castro Neves publicou diversos títulos inspirados pelo universo do escritor britânico, o mais recente deles sendo “Shakespeare ontem, hoje e amanhã” (2024).

Professor de Direito há quase 30 anos, com passagens por instituições como a Uerj e a PUC-RJ, o advogado começou a buscar intersecções entre Shakespeare e seu campo de estudos nas salas de aula. Ele costumava contextualizar as matérias de Direito com os dilemas morais de peças como “A tempestade”.

O feedback positivo dos alunos o incentivou a ir além. O seu “Medida por medida: o direito em Shakespeare” (2019), por exemplo, mostra como a obra do dramaturgo pode nos ajudar a compreender melhor a Justiça e os tribunais.

Já em “Shakespeare e os Beatles: o caminho do gênio” (2021), Castro Neves traça paralelos entre os diferentes caminhos estéticos seguidos pelo bardo e pelos garotos de Liverpool.

— A tese do livro é que eles seguiram caminhos muito parecidos — diz o escritor. — Começam em uma fase de conhecimento sobre o que está ao seu redor, passam por outra mais pop e juvenil, depois uma fase de firmar sua identidade, depois outra depressiva, e enfim a maturidade e o adeus. O interessante é que, em “A tempestade”, sua última peça, Shakespeare se despede com a consciência de que cumpriu seu dever. E os Beatles fazem a mesma coisa gravando “The end” no álbum “Abbey Road”. Essa clarividência é própria dos gênios.

Homenagem aos livros

Buscar referências na literatura é um processo natural para o novo imortal da ABL, que diz “dever tudo aos livros”. Para sua posse, ele vai decorar a parte externa do Petit Trianon como uma grande biblioteca, com centenas de títulos do chão até o teto.

— Prestar homenagem aos livros é o mais importante — diz Castro Neves. — Porque, para mim, é onde tudo começou.

Matéria na íntegra: https://www.folhape.com.br/noticia/amp/424021/dono-da-maior-biblioteca-de-shakespeare-do-pais-toma-posse-na-abl/

12/07/2025