O Sr. tem 18 livros publicados sobre história, literatura e direito. Como a literatura entrou em sua vida e qual a importância do gosto pela leitura para sua formação pessoal e profissional?
Sou um leitor patológico. Desde sempre, os livros foram os meus grandes companheiros. Muito cedo, percebi que a literatura permitia compreender o mundo que nos cerca, fornecendo, ainda, ferramentas para melhor se expressar. Para além do aprimoramento da comunicação, os livros – romances, biografias, tratados de história e até poesias – tratam da natureza humana. Sensibilizar-se com as virtudes e as vicissitudes da nossa condição nos garante uma existência mais leve, identificando, com empatia e compaixão, nossas limitações.
Os jovens advogados, atualmente, recorrem muito mais a inteligência artificial e às plataformas digitais do que à leitura de obras literárias e mesmo livros de direito. O Sr. enxerga isso como um ponto de preocupação em relação à formação profissional?
A inteligência artificial é um desafio para a advocacia. Para começar, ela condiciona seus usuários a uma forma perigosa de pensar, na medida em que não reclama um raciocínio analógico. Veja-se que, não há muito tempo, quando uma pessoa precisava pesquisar algum tema jurídico, era obrigada a se valer dos livros. Via-se forçada a ler grandes textos para encontrar o objeto sob análise. Com esse processo, aprendia-se o “todo”, fundamental para desenvolver uma visão holística. Atualmente, a pesquisa feita pelo computador a algum tema fornece uma resposta direta. Não se considera o caminho. Essa forma de pensar revela-se nociva para a compreensão do fenômeno jurídico.
O Sr. tomou posse na cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras (ABL) no último dia 11 de julho. Como o Sr. enxerga esse momento para sua vida e a importância de sua indicação para a advocacia, já que resgata a valorização da erudição no exercício da profissão?
A Academia Brasileira de Letras, ao longo de sua história, contou com advogados. Na sua formação, no final do século 19, havia, entre outros, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e Clóvis Bevilacqua. Outros grandes juristas passaram pela casa de Machado de Assis, como Pontes de Miranda e Raymundo Faoro. Uma honra estar lá, ao lado de intelectuais que representam a cultura brasileira. Como sempre pautei minha carreira atento ao cuidado técnico e à ética, fico na esperança de servir de exemplo de profissional responsável. Afinal, os profissionais de direito têm enorme responsabilidade na construção de um país mais justo.
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16/07/2025