
Elogio da democracia
Há meio século uma geração ganhou de presente de 20 anos uma ditadura que a marcaria pela vida inteira com a memória da prisão, da tortura e do exílio. Aos mortos, só agora uma comissão presta a homenagem póstuma da verdade.
Há meio século uma geração ganhou de presente de 20 anos uma ditadura que a marcaria pela vida inteira com a memória da prisão, da tortura e do exílio. Aos mortos, só agora uma comissão presta a homenagem póstuma da verdade.
Nenhum latino-americano escapou de se perguntar, um dia, se a América Latina de fato existe. Não aos olhos estrangeiros face aos quais uma estranheza nos irmana, mas aos nossos próprios olhos, quando nossas diferenças parecem irremediáveis. A cicatriz de Tordesilhas teria tornado o pertencimento latino-americano difícil para os brasileiros, não fora Gabriel García Márquez que, com sua literatura, apresentou a América latina a seus filhos, transfigurada na força torrencial de seu imaginário.
O clamor que o rapto das meninas nigerianas despertou no Ocidente — uma cúpula de chefes de Estado se reuniu em Paris — é o único consolo frente a um ato vil que, por seus requintes de crueldade, nos devolve, como espécie, ao mundo das feras. As autoridades e os grupos de mulheres que protestam exigindo uma ação imediata de resgate estão dizendo uma coisa simples: o que aconteceu naquela escola nos faz a todos menos humanos. O silêncio e a indiferença são cúmplices. Queremos as meninas de volta.