Carmen Miranda fará 70 anos de morte nesta terça-feira (5). Na tarde daquele dia 5 de agosto de 1955, ela filmara uma participação cantando e dançando no programa de TV do comediante Jimmy Durante. Em meio à apresentação, sentiu lhe faltar o ar e dobrou os joelhos por um instante. Recobrou-se, sorriu para Jimmy e finalizou o número com a euforia de sempre. Estava tendo um descompasso, uma arritmia, que, como se veria depois, as câmeras registraram. Terminado o trabalho, deixou o estúdio e convidou os amigos para uma esticada em sua casa, em Beverly Hills.
Foi uma reunião festiva. Carmen cantou, fez imitações, contou piadas e parecia bem para os dias difíceis que estava vivendo, dependente de álcool e comprimidos. Por volta de 2h30, cedo para seus padrões, disse que ia se recolher, mas que todos continuassem ali, tocando discos e se divertindo. Quando ela se dirigiu à escada, a menina Sheila, 12 anos, filha do brasileiro Jackson Flores, um dos convidados, pediu–lhe que autografasse uma foto. Carmen atendeu-a, mandou um beijo geral e subiu. Seu marido já fora dormir. Poucos minutos depois estava morta, sozinha, no chão do corredor, de rôbe e com um espelho na mão. Era o infarto fatal.
Havia 10 ou 12 pessoas em sua festa. Para meu livro "Carmen: Uma Biografia", cuja nova edição acaba de sair, conversei com quatro delas: Harry Vasco de Almeida e Aluisio Ferreira (Lulu), seus colegas do Bando da Lua, a amiga Dulce Damasceno de Britto, ex-correspondente em Hollywood, e Sheila, não mais uma menina. Eles me descreveram em detalhes aquela noite. Como poderiam esquecê-la?
Carmen morreu com 46 anos. Assim como com Judy Garland, Michael Jackson e tantos mais, seu organismo, subjugado pelas substâncias, apenas desistira de lutar.
A coreografia de seu número na TV com Jimmy Durante previa que, ao terminar, ela saísse de costas, dançando, sorrindo e acenando para a câmera, até desaparecer nas cortinas. Ninguém adivinharia que essa imagem seria a sua última e o seu adeus.