O salão nobre da Academia Brasileira de Letras ficou lotado na última quinta-feira, dia 27, para homenagear, em sessão especial, o decano da Casa, o ex-presidente Jose Sarney, que relançava três de seus romances: “O dono do mar”, “Saraminda” e “A duquesa vale uma missa” (editora Principis, selo da Ciranda Cultural).
O Acadêmico Domício Proença Filho fez um resumo das obras e dos personagens criados nos livros, e em seu discurso de agradecimento, José Sarney lembrou que tomou posse na ABL há 45 anos, no mês de novembro, e esta foi a maior alegria de sua vida, a mais pura talvez.
Sarney fez uma celebração de sua vida dedicada à literatura, à cultura é à Academia, agradeceu ao presidente Merval Pereira pela realização de uma sessão especial da ABL para o lançamento de seus livros. Compartilhou uma carta emocionada da mãe, colocando a ABL acima até da presidência da República.
Em uma de suas últimas cartas antes de morrer, minha mãe me disse que tinha muito orgulho de ter tido um filho eleito para a Academia Brasileira de Letras. Mais do que ter sido presidente da República. É um orgulho que todos nós devemos ter, porque, sem dúvida, a eleição à ABL significa uma consagração individual. É uma casa memorável, a qual Machado de Assis e Joaquim Nabuco tiveram oportunidade de fundar e nos deram duas diretrizes fundamentais, primeiro, a necessidade que temos de ser uma casa de amigos, que presemos a amizade, porque ela sem dúvida, evita as dissensões. Tenho prezado sempre ao longo destes anos todos, a amizade com todos os acadêmicos, na qual estamos destinados a viver unto a vida inteira. Segundo, a tradição, que é uma linha que cabe a todos nós. E ainda o terceiro, que á a guarda da língua que cabe a todos nós, e temos obrigação de fazer.
Sarney também refletiu sobre as duas vertentes da sua vida: literatura (vocação) e política (destino), citando sua participação na eleição de Tancredo Neves.
Relembrou o início na literatura com três livros de poesia e outras publicações antes de ingressar na ABL.
Refletiu também sobre as duas vertentes da sua vida: literatura (vocação) e política (destino), citando inclusive sua participação na eleição de Tancredo Neves.
Ressaltou a transição de buscar eleitores para buscar leitores.
Explicou o processo de pesquisa e dedicação para cada obra, especialmente "O Dono do Mar", traduzido para diversas línguas e elogiado por críticos renomados como Lévi-Strauss falou dos lançamentos internacionais e o ingresso da obra em coleções prestigiosas, como a Folio da Gallimard.
Relatou bastidores de pesquisa para romances, incluindo lendas dos pescadores e investigações sobre pinturas dentro dos livros.
Leia abaixo o discurso do Acadêmico José Sarney na íntegra
Presidente Merval Pereira.
Meus estimados e também queridos amigos, companheiros e acadêmicos que aqui estão prestigiando esta tarde na qual eu estou renovando a vaidade que todos nós temos de ver os seus livros à disposição dos leitores.
E há muito tempo, esses livros desapareceram das livrarias.
Isso me motivou a aceitar o convite que me foi feito pelo doutor Donaldo, que aqui está presente, presidente da Ciranda Cultural, e de Janice Florido, que é uma editora extraordinária, que me acompanha desde o tempo da Siciliano, onde ela foi responsável por algumas edições que lá fizemos.
Portanto, eu quero agradecer, em primeiro lugar, a eles, da editora, que com tanto cuidado, com tanta dedicação, trabalharam esses livros, de modo a que eles tivessem um novo formato e tivesse uma capa temática que pudesse significar uma coisa nova para os leitores, que eu acho que são os jovens que não conhecem, naturalmente, alguns livros que há muito tempo desapareceram de circulação.
Portanto, esta é uma oportunidade que me dá muita satisfação e muita alegria por isso.
Quero agradecer ao Merval, que tem sido impecável no tratamento que a mim tem feito nesta casa.
E, sem dúvida alguma, ele escolheu que à noite, ou à tarde de autógrafo, fosse feita numa sessão da casa.
Isto, Merval, eu fico muito feliz e muito honrado.
Sobretudo, porque neste mês de novembro, no dia 6 passado, há 45 anos, eu tomava posse na Academia Brasileira de Letras.
E a minha presença na Academia Brasileira de Letras, minha mãe, que fez uma carta, a última carta que ela fez poucos dias antes de morrer, ela dizia, agradeço a Deus ter um filho eleito para a Academia Brasileira de Letras.
Ela colocava a Academia à frente da presidência da República.
Então, no Maranhão é assim.
A Academia é maior do que a presidência.
Então, a maior alegria que eu tive na minha vida, a mais pura, talvez tenha sido nesse dia em que eu cheguei a essa Casa.
Esse orgulho que todos nós devemos ter.
Porque, sem dúvida, a eleição significa uma consagração que nós temos individualmente cada um de nós nesta casa tão memorável, a qual Machado de Assis e Joaquim Nabuco, com outros companheiros, tiveram a oportunidade de fundar.
E eles nos deram duas diretrizes fundamentais, que são aquelas que constam nos seus discursos.
Primeiro, a necessidade que nós temos de ser uma casa de amigos, que prezemos a amizade, porque ela, sem dúvida, evita as dissensões.
Então, eu tenho prezado sempre, ao longo desses anos todos, esta amizade com todos os senhores acadêmicos, na qual estamos destinados a viver juntos a vida inteira.
E isto o Marquês de Abrantes dizia aos senadores quando eles queriam brigar: não briguem, vamos viver juntos a vida inteira.
Então, nós devemos dizer, estou aqui.
E segundo, a tradição. Manter a tradição, que ela é, sem dúvida, uma linha que cabe a todos nós.
E terceiro, a guarda da língua, e essa guarda da língua é que nós temos a obrigação de fazer.
E, sem dúvida alguma, meu presidente Merval, nós devemos perseguir a feitura do nosso dicionário para termos o dicionário da Academia, que, sem dúvida alguma, vai marcar para o futuro, sendo uma realização importante e definitiva que nós faremos para a língua portuguesa.
Faremos a mesma coisa que fez a língua espanhola, quando o dicionário da Academia Espanhola de Letras é, sem dúvida alguma, o monumento da língua espanhola seguido até hoje.
Não deixemos jamais passar essa vontade de fazermos o dicionário.
Eu tenho tido algumas vezes esse sonho, tenho procurado incentivar, mas nós devemos, temos as limitações que são da feitura do próprio dicionário e dos recursos necessários a essa realização.
Eu quero dizer também que, naquele tempo que eu fui eleito, eu já tinha escrito três livros de poesia.
Um deles, que é o ”Marimbondo de Fogo”, tinha sido, na edição portuguesa, prefaciado por João Gaspar Simões, que foi aquele grande crítico, ele ainda vivia naquele tempo, que fez a apresentação e a revelação do Fernando Pessoa.
Foi o João Gaspar Simões, o primeiro grande crítico a descobrir. Ele já estava bem velho, mas se dispôs, por uma solicitação da Academia das Ciências de Lisboa, que me fez também sócio correspondente dela, para que nós fizéssemos essa publicação, que é uma belíssima edição que eles realizaram, com muitas ilustrações.
E já tinha publicado o “Norte das Águas”, que teve uma grande recepção aqui naquele tempo. E dois contos também, muito curtos, novelas, a “Merícia do Riacho Bem-Querer” e o “Brejal dos Guajas”.
Então, naquele momento, eu recebia essa proposta que me foi feita pelo Athayde (Austregesilo de Athayde).
Eu não queria, achava que ainda não devia, jamais pensei que pudesse participar da Academia Brasileira de Letras; o Athayde chegou e me convidou, eu disse que não era candidato e ele me convidou para almoçar com ele. E nós saímos aqui em um passeio, passamos na frente de uma pequena livraria que tinha. Ele pediu uma folha de papel e me obrigou a fazer a minha inscrição como candidato na Academia.
Então, o Athayde dizia, uma eleição aqui, a gente tem que arrumar briga. Então, eu quero colocar vocês nessa briga. Então, ele gostava de fazer aqui. Ele está aqui e é uma lembrança e uma saudade que não passa.
Pois bem, eu devo dizer que a minha vida sempre foi tida com duas vertentes: a vertente da literatura e a vertente da política.
Dizia o Napoleão Bonaparte que a política era um destino, e a literatura era uma vocação.
Ele desenvolvia muitas vezes, na palavra dele, a vocação e falava também muitas vezes no destino.
E eu acho que, no caso, no meu caso, esse destino da política eu não posso jamais deixar de louvar, porque foi ele que, sem dúvida, me proporcionou ajudar naquilo que eu pude ajudar o povo brasileiro.
Em alguns momentos, algumas coisas definitivas, como a democracia que hoje nós disputamos no país.
Sabemos e guardamos o que custou aquilo naquele momento, mas reconheço que tive uma participação que considero significativa naquele momento, quando renunciei ao partido do PDS e, ao mesmo tempo, organizei uma dissidência, que era o Partido da Aliança Liberal, que chegamos e completamos o que faltava no colégio eleitoral para que o Tancredo Neves fosse eleito presidente da República.
Mas foi a vocação que me trouxe para esta casa, não foi a política.
A política, hoje eu tenho dito, quer dizer, eu deixei de buscar eleitores para buscar leitores.
Agora eu estou buscando leitores, não estou querendo mais eleitores, porque é difícil chegar para um eleitor e dizer que ele tem que votar num velho de 95 anos.
Então, é essa vocação que me trouxe até a Academia.
Eu quero dizer que esses três livros que agora nós estamos reeditando, eu, como disse, tenho que agradecer muito à editora Ciranda Cultural, porque ela fez um tratamento excepcional. As capas dos livros são realmente bonitas. Sem vaidade, tenho que achei muito bonitas as capas e estou muito orgulhoso que elas tenham sido feitas.
Está vendo, Felipe?
Então, eu quero dizer que eles tiveram uma recepção muito grande. Por exemplo, “Dono do Mar” foi traduzido em 12 línguas.
Quer dizer, o Dono do Mar teve edições em chinês, teve edições em russo, teve edição em húngaro, em búlgaro, teve edição em francês, alemão, espanhol, eleição americana, inglesa também.
E, na edição inglesa, foi traduzido pelo (Gregory) Rabassa, que foi o tradutor de Jorge Amado e o tradutor do Garcia Marques também.
Nessa edição, foi considerado, naquele ano de 2003, o livro estrangeiro, o terceiro livro, e eles deram esse prêmio nos Estados Unidos, com um tratamento muito bom.
Na França, eu tive a felicidade de ter, como um bom crítico dos meus livros, o nosso Lévi-Strauss.
Quer dizer, que pessoa que eu fui, depois que ele teve essa leitura também tão simpática dos livros, eu fui, posso dizer, tive uma certa relação estreita com ele.
E tem uma longa correspondência com Lévi-Strauss, que eu pretendo, também, um dia, se o tempo permitir, publicar essa correspondência.
Será interessante, porque ele faz muitas considerações sobre sua passagem no Brasil, as coisas que ele...
Os Tristes Trópicos, que é um livro muito importante dele.
Enfim.
E também o Jean Orecchioni, que na França traduziu também o Amigos, E porque eu tive a sorte de encontrar uma boa editora, que era a Hachette Litérature.
Então, a Hachette era uma grande editora francesa, mas mais dedicada aos livros didáticos e também ela não tinha uma abertura de um selo propriamente de literatura.
Mas, naquele ano, me disse o então presidente, a editora, que eles tinham tido, com a queda do muro de Berlim, uma fome muito grande daqueles países que, durante muitos anos, ficaram sem acesso à literatura ocidental, e começaram a comprar. E eu entrei nessa onda. Eles colocaram o livro nesse pacote que eles transmitiram àqueles países que estavam abrindo.
E eu tive sorte, porque eu fui, por exemplo, até em árabe, nós traduzimos, consegui, eles levaram o Dono do mar.
Eu fui para o lançamento em Beirute, fui ao lançamento no Cairo, fui ao lançamento na Alemanha, fui ao lançamento também na Suíça, edição francesa, que foi muito...
Fui na Bulgária. Ali está nosso embaixador, que era da Romênia, e está o Jerônimo.
E ele organizou muito bem aquela festa lá.
Nós tivemos um lançamento brilhante, com uma grande recepção e uma grande crítica que o livro obteve naquele país.
Devo dizer que, também, “Saraminda” também teve uma grande divulgação, uma grande publicação, e foram publicadas muitas edições.
De Saraminda, por exemplo, do Saraminda não, do Dono do Mar, eu tive a felicidade deles incluírem a Gallimard, que foi a segunda editora francesa e a maior editora de literatura, A Gallimard incluiu o Dono do Mar na coleção Folio, que é a maior coleção de literatura da França, e tem 2.600 títulos.
Eu fiquei até com vergonha quando eu vi os nomes que estavam lá, e eu no meio daquela gente extraordinária. Pois bem, isso me deu muita satisfação.
Mas eu tive sempre muito cuidado ao escrever esses livros.
Por exemplo, todos eles foram fruto de muito tempo de pesquisa.
O nosso Domício, eu estava deixando para o final, mas vou fazer logo. Agradecer a grande leitura que ele fez, uma leitura generosa, de amigo, essa que a gente lê a favor, não lê contra.
Muitas vezes temos pessoas que leem contra.
Uma vez, na Academia Maranhense de Letras, eu tinha um professor Mota Romaa que foi ler um soneto, que era de um colega dele.
Aí ele repetiu, disse, ó, Mota Roma, você está lendo contra. Então, leia a favor".
Então, ele leu a favor toda essa parte e me deu muita alegria, e que sou muito grato a Domício, que é um grande poeta, um grande crítico, um grande intelectual que nós temos.
E, também, a “Duquesa Vale uma Missa” teve uma boa recepção da crítica. Tem uma edição da Duquesa em francês, logo, eles fizeram uma edição na França.
A Gallimaud produziu com o selo dela.
Então, eu acho que, assim, com a ressurreição desses livros agora, eu acho que a gente...
Eu, por exemplo, que não sou mais, não estou mais na política, estou achando que...
Mas a política está sempre na gente, quer dizer, mexendo um pouco.
Mas eu já estou vacinado.
Eu não tomei aquela... Não acredito em vacina como andaram espalhando ai, não. Eu acredito. E estou vacinado.
De maneira que também, por exemplo, o Dono do Mar, eu levei muitos anos coletando aquelas histórias, as lendas que eu coloquei no livro.
E muitas vezes, algumas noites, eu saí para ficar com os pescadores na beira da praia, ouvindo as histórias que ele contava.
E as lendas, essas lendas que estavam, que me custaram fazer uma pesquisa sobre as navegações portuguesas e onde eles tinham estado no mundo inteiro, que essas lendas tinham circulado. Eram as mesmas que estavam na costa do Brasil. Então, nenhuma delas a que eu refiro ali foram lendas só nossas.
Na costa da África também, eles tinham as mesmas lendas que os portugueses deixavam. Algumas palavras, por exemplo, que eu achava que tinham 200 ou 300 anos, como é escrita, por exemplo, que era aquele instrumento dos barcos, de pescadores do Maranhão, ele naturalmente, eu pesquisei e depois de ler tanto, não encontrei essa palavra que tinha vindo.
Ela atravessou os mares e atravessou esses 200, 300 anos, até chegar e ficar na costa do Maranhão, revivendo até hoje.
Então, foram pesquisas que me levaram muito tempo e, ao mesmo tempo, ouvindo aquelas histórias, tomando notas e tal.
E, depois de muitos anos, eu saí para escrever um conto, que seria o Capitão Cristório, que é o...
mas depois que eu comecei.
E, quando escrevo, eu pego o princípio da história e o fim.
E o meio a gente desenvolve nas noites que fica em sonho, perseguido pelos nossos personagens.
Com Saraminda, por exemplo, eu fiquei tão obcecado por Saraminda, que uma noite eu estava umas duas horas da manhã escrevendo, quando a Marli entrou.
Você está apaixonado por essa mulata que não quer nem dormir?
Eu disse, não, eu quero dormir..
Então, eu acho que também na “Duquesa vale uma mesa”, também muitas pesquisas eu fiz.
Por exemplo, essa do Partido Comunista, receber aqui, porque eles não podiam mandar, não tinham bancos para mandar dinheiro para estender o Partido para o mundo afora.
Então, aquilo que tinha sido saqueado de obra de arte, o Partido Russo mandava, mandava para nós.
E eles chegavam aqui e vendiam.
E eu detectei e conheci, quer dizer, um desses compradores, cuja filha era casada com o cunhado meu.
Então, eles tinham o quadro na casa deles, o quadro que eu vi. Não era esse que nós colocamos, que eu coloquei no livro, mas era um quadro que tinha uma assinatura de Velázquez.
Evidentemente, a família começou a brigar pelo quadro. E fizeram uma fortuna no quadro, se fosse.
Aí contrataram uma equipe para desvendar a autenticidade do quadro.
E nessa luta toda, eu não vou dizer o que eles chegaram à conclusão, porque vocês vão comprar o livro. Os acadêmicos não vão comprar, eu mandei para todos logo antes, para que não ficassem aqui em fila para receber autógrafo.
Então, nós vamos ter esse livro já com essa história, a obsessão que eles têm pelo quadro, e o quadro começa a ser...
E eu tive que pesquisar sobre o ponto de vista crítico que você relatou sobre a pintura, a escola de Fontainebleau.
Então, isso é desenvolvido dentro do livro.
E, ao mesmo tempo, fiz uma coisa que eu não vi muito no livro brasileiro.
Coloquei os quadros que tinham dentro do próprio livro. Alguns deles são quadros muito provocativos, como esse da Duquesa, em que ela está apontando para o seio da irmã e dizendo que ela estava grávida do rei.
É o que consta na história francesa.
Pois bem, eu quero dizer que esta casa, o lugar de “Decano” é um lugar muito triste e alegre.
Alegre pela presença dentro da Academia, com a convivência e amizade de todos nós acadêmicos que aqui estamos e frequentamos essa casa.
Eu tenho um grande orgulho de pertencer à Academia e todos eu sei que têm o mesmo orgulho que eu tenho.
E devemos lutar e continuar. E isso só faz bem à gente.
E faz bem ao Brasil que tenhamos aqui, perseguindo a guarda da língua, da tradição e o gosto da amizade e da convivência que nós temos.
E, por outro lado, também a saudade que a gente tem, por exemplo, com o lugar de decano de tantos anos. Ver todos os nossos colegas que viveram tanto tempo conosco desaparecerem, e nós ocupamos o primeiro lugar na fila daqueles que desapareceram.
Então, aí, a gente já vê que há uma certa vontade de...
O Portela sempre dizia, não pleiteie o meu lugar, não. Ele era uma cadeira atrás de mim.
Então, nós brincávamos muito sobre isso.
E eu quero dizer, por exemplo, da saudade do Athayde, do Odylo Costa, filho, um grande amigo que tive na minha vida.
O último Salão Literário do Rio de Janeiro. E foi lá que eu conheci os grandes escritores daquela época.
Manoel Bandeira foi meu amigo. Carlos Drummond de Andrade, que frequentava lá, Peregrino Júnior, Afonso Arinos de Mello Franco, quer dizer, meu também grande amigo, Raquel, Jorge Amado.
Aqui também, depois, não foi desse tempo, mas Goulart, Castelo Branco, quer dizer, Castelinho, que tomou posse aqui, foi recebido por mim.
O Vilaça, o próprio Portela, de que eu falei agora, o Ciro dos Anjos, que se sentava aí, nessa cadeira, quando eu cheguei, que está o nosso Niskier querido, e o Ciro dos Anjos diz, sai dessa cadeira, que o Atayde olha muito para ela, quando a casa está completa, ele derruba.
Aí eu saí dessa cadeira, que ele achava que o Athayde...
O Merval não tem isso, não.
Então, eu quero também...
Gilberto Amado era uma figura muito interessante.
Quando ele tomou posse aqui, o Afonso chegou e disse, olha, Gilberto, quem foi na sua frente foi o Guilherme Almeida, fez um discurso melhor do que eu. Sempre disse, tá bem
O tema dele era muito melhor do que o meu.
Então, ele tinha essa vaidade, o Gilberto, as histórias que têm esta casa, que são muito ricas.
E a minha cadeira, o patrono dela é o Tobias Barreto, quem primeiro ocupou foi o Graça Aranha da nossa terra, do Maranhão.
E eu substituí o Zé Américo de Almeida, que foi um grande político brasileiro, candidato à presidência da República, que perdeu para o Júlio Prestes, e isso determinou a Revolução de 30.
Uma figura excepcional, o Zé Américo, a quem eu também conheci. Muito pouco, porque eu já estava um pouco velho, também na Casa do Odylo.
Então...
E, nesse tempo, era uma das coisas que eu até adquiria.
Era justamente colocar um político escritor, porque o José Américo tinha escrito aquele grande livro da Bagaceira, que foi um livro muito importante.
E eu quero dizer que, quando eu assumi também aqui, eu contei a história, no meu discurso de posse, do meu avô Assuero.
Quando eu fui eleito para a Academia, ele era um lavrador vindo do Nordeste, na seca de 21, para o Maranhão, e ele dizia, eu vi a cara da fome na seca de 21. Ô, bicha da cara feia, só mata a gente em Jiju.
Então, o velho Assuero, eu fiz uma cartinha a ele dizendo que tinha entrado para a Academia e a minha alegria e tal.
E ele recebeu a carta e chamou a vizinha, começou a soltar foguete e tal, e a dona Tudinha, vizinha, disse: Sr. Assuero, o senhor está tão contente, por quê?
Meu neto José entrou para a Academia.
E o que é a Academia, Sr. Assuero?
Eu não sei, eu sei que é coisa grande.
Então, eu entrei contando essa história, né?
E também me despedi com a Alcione, com a cantoria do pai da Alcione, que dizia, eu já vou-me embora, é chegada a hora de eu me despedir, no discurso de posse.
Eu digo duas coisas do Maranhão, meu avô, e a cultura popular do Maranhão.
Pois bem, muito obrigado, Merval.
Muito obrigado a todos os membros da mesa que me aprovaram, a todos os senhores acadêmicos que estão aqui presentes, me dando muita alegria.
E eu estou muito feliz por essa sessão, que eu considero 45 anos da minha presença na Academia de Letras.
Eu aqui não entrei como político, entrei pela minha vocação literária.
Muito obrigado.
01/12/2025