A casa de Machado de Assis (1839 - 1908) abriu suas portas para Lázaro Ramos, de 46 anos de idade, nesta quinta-feira (4). O ator, diretor e escritor participou do lançamento da biografia da icônica Ruth de Souza (1921 - 2019) na Academia Brasileira de Letras, no Centro do Rio de Janeiro. A Rainha da Rua Paissandu chegou às livrarias nesta semana, e ele assina como ghostwriter da atriz, que é considerada uma âncora para atores negros no Brasil.
Em entrevista à Quem, Lázaro Ramos falou sobre a importância de lançar o livro na Casa de Machado de Assis e relembrou sua relação afetiva com Ruth de Souza: “A primeira vez que vi Dona Ruth, foi quando vim fazer teatro com o Bando Teatro Olodum. Ela chegou no camarim e doou o tempo dela para contar um pedaço da história, incentivar a gente, mostrar que deveríamos ocupar todos os lugares”. O ator reforçou o impacto da atriz pioneira em sua carreira e na representatividade negra: “Quando ela me chamou para ir à casa dela, na Rua Paissandu, ela realmente me tratou como filho. Essa paixão que ela nutria pela profissão faz com que eu ache que vale a pena ocupar esses espaços e ser ator”.
Ele também refletiu sobre o legado de Ruth de Souza e o papel do livro em perpetuar sua história: “Ela abriu caminhos que eu não tinha referência. Aos 96 anos, numa época em que não havia outras atrizes negras trabalhando com constância, Ruth nos mostrou a importância de ocupar espaços, usar nosso corpo e nossa voz para levar mensagens. E é isso que tento transmitir com este livro”.
Em seu discurso, Lázaro compartilhou a experiência pessoal de escrever sobre Ruth e a forma como o projeto tomou forma: "Quando ela faleceu, eu desisti do livro. E a editora Intrínseca, durante os últimos três anos, ficava pedindo que eu retomasse o livro. Eu falei: 'Tenho uma história muito próxima, eu não consigo ser isento para contar essa história. A minha relação com Dona Ruth é afetiva. E eu não consigo fazer um livro do jeito que vocês querem'".
Lázaro Ramos explicou que o livro ganhou um formato que mistura teatro e fatos históricos do Brasil, respeitando o legado de Ruth de Souza. Ele ressaltou a relação afetiva que tinha com a atriz e como se sente próximo dela ao narrar sua história: "Não me sinto autor, mas me sinto filho de Ruth, e isso já me basta e me alegra muito", concluiu.
Vladimir Brichta, amigo de longa data de Lázaro Ramos, elogiou o talento e a sensibilidade do ator ao conduzir o projeto, destacando seu olhar coletivo e amoroso: “Eu fico encantado com o Lazinho… ele é alguém extremamente talentoso e arregimentador, com muita amorosidade na condução de tudo que realiza artisticamente e na própria vida pessoalmente”. Sobre a biografia de Ruth de Souza, o ator completou: “O fato de ser Lazinho… ele seria, de alguma forma, um porta-voz, não seria uma obra dele propriamente, e isso certamente vai dar cara à obra que ele faz parte”.
A jornalista Maju Coutinho também falou com a Quem sobre Dona Ruth, de lembrar a importância dela não só como mulher, mas especialmente como mulher preta para tantas outras que viriam e para as que continuam vindo depois.
"Maravilhosa essa iniciativa do Lázaro de registrar a história da Dona Ruth de Souza. Uma mulher que abriu portas, abriu avenidas para todas nós. Eu tive o prazer de conhecer a Dona Ruth com seu sorriso doce, com seu olhar. Ruth de Souza tinha um olhar penetrante. E aí estou muito curiosa para ler o que o Lázaro captou desse olhar. Esse olhar que foi muito importante para nós, mulheres brasileiras, especialmente mulheres negras brasileiras", explicou.
Maju falou ainda de seu encontro e 'bênção' envolvendo a saudosa artista. "Tenho uma memória do jeito dela falar e do jeito doce dela contar histórias dos bastidores da vida artística dela. E ela contava isso com tanto orgulho e com tanto brilho que foi uma delícia. Passei um dia com dona Ruth e foi maravilhoso", começou.
"Tenho também uma memória, que acho muito simbólica, porque quando comecei no Fantástico oficialmente, me lembro até hoje que a minha primeira participação numa reunião de pauta foi na semana seguinte à morte da Dona Ruth de Souza. Quando cheguei à redação para a reunião de pauta, tinha um telão lá do Fantástico com a imagem da Dona Ruth. E a minha primeira reunião de pauta, a imagem da Dona Ruth enorme atrás de mim e eu sentada assim abaixo da Dona Ruth, ela era quase como se fosse uma bênção. Então, para mim aquilo foi assim: 'minha filha, vai, vai que o caminho é teu'", completou a apresentadora e jornalista.
Sobre o livro:
"Grande dama da dramaturgia brasileira e inspiração para muitas gerações, Ruth de Souza foi uma pioneira. Primeira atriz negra a se apresentar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, primeira brasileira a ser indicada a um prêmio internacional de cinema, ela construiu ao longo de décadas uma carreira singular, sendo também referência de representatividade negra nos palcos e nas telas do cinema e da televisão. Nascida em um subúrbio do Rio de Janeiro, morou por alguns anos em Minas Gerais, mas voltou à capital carioca após a morte do pai", resume a editora Intrínseca sobre a obra.
O livro foi escrito a partir de dezenas de encontros entre Lázaro e dona Ruth aos domingos, na casa dela no bairro do Flamengo, na Zona Sul Carioca, onde revisitava suas memórias. "Lázaro, que em sua trajetória como artista sempre se sentiu na obrigação de continuar desbravando o caminho aberto por Ruth de Souza, faz jus a essa grande mulher ao traduzir literariamente, com muita sensibilidade, as palavras dela", completa a editora.
Matéria na íntegra: https://revistaquem.globo.com/eventos/noticia/2025/09/lazaro-ramos-lanca-biografia-de-ruth-de-souza-na-academia-brasileira-de-letras.ghtml [1]
08/09/2025Links
[1] https://revistaquem.globo.com/eventos/noticia/2025/09/lazaro-ramos-lanca-biografia-de-ruth-de-souza-na-academia-brasileira-de-letras.ghtml