Vivi parte da vida no Bexiga, mas passei tempão sem voltar lá. Domingo passado, regressando de Minas Gerais, estávamos cogitando aonde ir. Meu genro, Diogo, sugeriu: o Rancho Nordestino. Descobri o porquê. Nostalgia. Ele, pai de Antonia, minha neta, quando jovem morou no prédio em cima do Rancho e foi feliz. Ao chegarmos, reconheci a Rua Manoel Dutra, que fez parte de minha iniciação no bairro centro de boemia, cantinas, bares, gente do teatro, música e cinema. Domínio do Adoniram Barbosa. O tanto de atores e diretores que ali moravam.
Vivi parte da vida no Bexiga, mas passei tempão sem voltar lá. Domingo passado, regressando de Minas Gerais, estávamos cogitando aonde ir. Meu genro, Diogo, sugeriu: o Rancho Nordestino. Descobri o porquê. Nostalgia. Ele, pai de Antonia, minha neta, quando jovem morou no prédio em cima do Rancho e foi feliz. Ao chegarmos, reconheci a Rua Manoel Dutra, que fez parte de minha iniciação no bairro centro de boemia, cantinas, bares, gente do teatro, música e cinema. Domínio do Adoniram Barbosa. O tanto de atores e diretores que ali moravam.
Quem primeiro me veio à mente, por ter vivido duas quadras adiante? Apollo Silveira, fotógrafo de publicidade e moda, casado, na época, com a atriz Elisabeth Hartman, de teatro, cinema, televisão, hoje com 96 anos, lúcida e linda. Uma tarde de sábado, eu estava na casa de Fernando de Barros, produtor e diretor de cinema, que reunia um bloco de celebridades para o macarrão da Benedita, quando Apollo apareceu. Vinha depois de longuíssima peregrinação por dezenas de aviários, em busca de um galo vermelho, acessório para uma foto. Comecei a mergulhar em um mundo diferente. Ficamos amigos. Quase todo sábado, almoçava com ele e a Hartman. Apollo foi o autor da capa de meu primeiro livro, Depois do Sol. Contos sobre a noite paulistana, sendo que um deles, Anuska, Manequim e Mulher, foi o primeiro filme de Francisco Cuoco, dirigido por Francisco Ramalho, e Retrato do Jovem Brigador, curta-metragem de Roberto Santos, pai do cinema novo paulista, dentro do longa Vozes do Medo, que a censura na ditadura destruiu.
No Rancho Nordestino, lotado, chegavam à mesa caipiroscas e caipirinhas perfeitas, queijo de coalho e molho de pimenta, farofa, e o Bexiga se refazendo dentro de mim, desde a entrevista com tempo em que me deslumbrava e absorvia tudo a cada instante, convivendo com Maria Della Costa, Odete Lara, Anselmo Duarte. E Lima Barreto, que me assegurou depois do sucesso de O Cangaceiro: “Sou o novo Orson Welles”. E Vanja Orico, feliz por ter participado de Mulheres e Luzes de Fellini. Fernando de Barros, Anselmo Duarte, Araçary de Oliveira, Sérgio Cardoso, Nydia Licia. E me veio a entrevista com uma Nydia que se separara de Sérgio Cardoso, ambos superstars. E o abraço que recebi: “Único jornalista que não fofocou, não criou sensacionalismo”. Ah! se ela vivesse hoje com as redes!
Pedi baião de dois e carne de sol e percebi que, anos 1960, ali vizinho na Rua Santo Antônio, tinha começado o Teatro Oficina em uma saleta mínima onde, aos sábados, Zé Celso e um bando de jovens acendiam fósforos para incendiar o teatro brasileiro. E ele morreu pelo fogo.
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[1] http://www2.machadodeassis.org.br/academicos/ignacio-de-loyola-brandao